Primeiro foram os casos da Síndrome Guillain-Barré relacionados ao zika, em abril do ano passado. Em novembro, surgiu a microcefalia em bebês, cujas mães tiveram esse vírus. Agora, uma terceira ameaça: a miosite, relacionada a outra virose também transmitida pelo Aedes, a febre chikungunya. E com uma morte. O óbito foi o da índia xucuru, Danielle Marques Santana, 17 anos, moradora de Pesqueira, que faleceu no último dia 6 no Hospital da Restauração. O caso acendeu o alerta entre os especialistas, pois é o primeiro registro brasileiro de miosite, uma rara doença autoimune.
Até então, a literatura médica só tinha descrito quatro casos dessa infecção relacionados à chikungunya. Foram registrados na Índia, entre 2013 e 2014 - dois pacientes sobreviveram e dois morreram. Chefe do setor de Neurologia do HR, Lúcia Brito acredita que haverá um aumento de ocorrências da miosite relacionada à febre, devido a maior predominância de casos dessa arbovirose em 2016 - neste ano, só nos primeiros 15 dias de janeiro, a Secretaria Estadual de Saúde notificou 701 casos da virose em 69 municípios.
Por isso, ressaltou a neurologista, é necessário sensibilidade dos médicos no diagnóstico que pode ser confundido com Síndrome Guillian-Barré (SGB). “A miosite é uma inflamação muscular aguda. Essa é uma condição rara. E agora dá um alerta da possibilidade delas junto a essas viroses”, alertou.
O infectologista e membro do Comitê Técnico da Dengue e Chikungunya do Ministério da Saúde, Carlos Brito, compartilha dessa opinião. “O caso da índia mostra o quanto a chikungunya está em expansão. E quanto é importante ficar em alerta pois novos casos devem surgir. E sabemos que as complicações raras surgem quando as doenças aumentam sua frequência”, ressaltou Brito.
A doença
A miosite não é exclusividade da chikungunya e pode acontecer por outras infecções musculares ou de vasos sanguíneos. Ela é uma doença autoimune, ou seja uma resposta exagerada do sistema imunológico ao vírus. A reação dele acomete os músculos. Tem sintomas semelhantes à Guillain-Barré. Nas duas pode acontecer a dificuldade motora e dos músculos da respiração.
Ambas podem levar à morte se o diagnóstico e tratamento não forem rápidos. As diferenças são que a miosite acomete os músculos e existe uma produção exacerbada de enzimas musculares no líquido da coluna espinhal. Na Guillain, o líquido aponta o excesso de proteínas e o dano é aos nervos. O tratamento da miosite é com corticoides. Já a síndrome, com imunoglobulina. Como a miosite é uma doença relativamente nova, não há descrição de taxa de mortalidade nem definição padrão para fatores de risco. Acredita-se que pessoas com imunidade baixa, doenças genéticas e idosos possam ser mais suscetíveis.
Alerta
Apesar da relação estabelecida da chikungunya com a miosite, não está descartado que a febre também possa provocar outras doenças neurológicas, como a Guillain-Barré. Por isso, todos, sejam médicos ou a comunidade devem ficar atentos a sinais após quadros virais. Paralisia da face, dos membros, déficit motor, falhas de memória e/ou alterações de humor são sinais de alerta.
Folhape
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