Era de se esperar que causasse polêmica a entrevista concedida pela presidente da República, Dilma Rousseff, ao “Programa do Jô, na madrugada de sexta para sábado. Não cabe a este blog sobre televisão opinar a respeito do que a presidente (felizmente Jô não a chamou de “presidenta”) disse em 1 hora e 9 minutos de conversa. Mas cabe, sim, falarmos sobre como foi conduzida a dita entrevista. E nesse quesito deixou a desejar.
Houve quem reclamasse – e não foram poucos – da falta de agressividade por parte de Jô. Não creio que fosse o caso. Um bom entrevistador não precisa ser feroz ou grosseiro. Por outro lado, deve ser incondicionalmente incisivo. E isso Jô não foi. Incomodou, inclusive, um certo tom laudatório, dispensável por parte de quem está na posição de perquiridor.
Bastaram poucos minutos de programa para notarmos que aquela não seria uma entrevista de questões contundentes e respostas esclarecedoras. A impressão era de que Jô seguia uma pauta, lendo em seu tablet perguntas cujas respostas já estavam na ponta da língua da entrevistada. Respostas, aliás, que em momento algum foram contestadas pelo entrevistador. E nem era preciso muito preparo por parte deste para levantar alguns pontos muito mal explicados.
A entrevista concedida ao “Programa do Jô” segue uma estratégia de marketing para criar empatia entre presidente e cidadãos. Obama é um mestre em aparecer em programas populares – de Ophah Winfrey a Ellen DeGeneres e David Letterman. Em nenhuma dessas atrações o presidente norte-americano foi hostilizado ou colocado contra a parede. Ao contrário: contou intimidades familiares e até dançou. Algo de errado nisso? De forma alguma. Era o combinado. Mas nesse caso o jogo era claro: Obama estava lá para mostrar seu lado ameno e humano, não para falar de política.
Não haveria problema algum se a entrevista de Jô tivesse como pauta a intimidade da presidente. Acontece, porém, que ela foi ao ar travestida de discussão sobre temas sociais e políticos. Nesse caso, deveria ser mais inquisitiva e contestatória em vez de levantar a bola para Dilma cortar.
Jeferson de Sousa
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