No Ceará a Saúde pública se ressente, sim, da falta de um secretário, da falta de gerenciamento dos seus serviços, da falta de dinheiro, da falta de solidariedade e de respeito ao ser humano, da falta de cumprimento do dever de agentes públicos, e da falta de ação política. Sobram, porém, discursos demagógicos com exploração da miséria alheia e a consequente humilhação a todos quantos são vítimas da imprevidência, sustentáculo do caos mostrado ao mundo, nos envergonhando pelos maltratos impostos aos irmãos e pela evidente debilidade do universo político cearense.
A imperiosa solução do problema a curto prazo exige o que não fomos capazes de fazer ao longo dos últimos anos: priorizar o social. A urgente reengenharia reclama, primeiro, o compromisso da classe política, situação e oposição, em respeito ao povo cearense, para cobrar a ajuda da União que, mesmo com a economia aos pandarecos não pode se furtar de atender a essa necessidade das camadas mais pobres do Estado. Depois, a constante vigília nas ações do Governo, e de seus auxiliares, por parte dos legisladores e dos responsáveis pela defesa dos direitos do cidadão. E, por fim, de se despirem todos dos excessos de vaidade e da ânsia de tirar proveito até da miséria do ser humano.
Reclamar recursos do Governo Federal se faz necessário pelo fato de o Ceará, nos últimos anos, ter consideravelmente ampliado sua rede de hospitais, policlínicas, postos de saúde e outros equipamentos. O Ministério da Saúde continua tratando o Ceará como se nada disso houvesse acontecido. O Estado recebeu de recursos do Sistema Único de Saúde (SUS), neste ano, praticamente a mesma quantia liberada para os cinco meses do ano passado para a atenção básica, para os serviços de média e alta complexidade, para a assistência farmacêutica e para a gestão do SUS e vigilância sanitária. Só não tem recebido os mesmos valores para a rubrica investimentos.
Esses números oficiais estão em poder da Assembleia, mas, não erra quem afirmar ser essa informação desconhecida da quase totalidade dos deputados integrantes das comissões de Fiscalização e Controle e de Saúde. E é, também por isso, pela desinformação e o desinteresse, que eles deixam de cumprir o dever na sua plenitude. Fossem menos negligentes no seu mister, deputados no território estadual, e vereadores da Capital no seu espaço de atuação, por certo não estaríamos em situação tão periclitante como agora.
Indiscutivelmente fizeram falta algumas manifestações sérias de legisladores, responsáveis pelo controle externo dos governos estadual e municipal. Por certo, um brado teria evitado chegarmos a tal estágio de calamidade. O governador Camilo Santana não foi questionado, como devia, em janeiro passado, quando anunciou um corte de 20% no Orçamento da Saúde, apesar do já deficitário custeio à época. Se a assessoria do chefe do Executivo não foi capaz de demovê-lo do propósito e da execução da medida, deputados altivos, independentes, comprometidos com o social, se conhecessem a realidade do quadro de dificuldades existente, ainda na gestão anterior, verberariam contra a decisão governamental e, quem sabe, poderiam ter evitado aquele largo passo para o fosso.
Qualquer pessoa, por mínimo que seja o seu conhecimento sobre as finanças do Estado, sabe da incapacidade de o erário cearense suportar o ônus do custeio da Saúde após a inauguração dos equipamentos construídos nos últimos anos. E atentem para o fato de estar um terceiro hospital regional (de Quixeramobim) pronto, equipado, inaugurado, porém fechado por falta de dinheiro para começar a atender os pacientes daquela Região.
Talvez envergonhado, por ter um equipamento moderno e necessário em situação inservível, o pessoal do Governo, para esconder que o caixa está zerado, alegue, para tentar justificar essa anomalia, questões de natureza hídrica e elétrica, para a garantia das ações de funcionalidade do hospital: dificuldades muito pequenas para o tamanho da edificação.
O Estado deve, pela importância da Saúde, alocar todo recurso possível para evitar o sofrimento da população carente. Isso, porém, não o credencia a abandonar os demais setores cujos serviços são também reclamados pela população, tanto que a própria Constituição impõe percentuais obrigatórios de aplicação e os segmentos sociais exigem, vide o caso da Cultura, motivo de compromissos do governador, na campanha e pós posse, destinando boas somas para promoções de eventos como festas carnavalescas e de chitão, assim como determinadas obras, a do Acquário, por exemplo.
Cadê o secretário?
O momento crítico da Saúde no Ceará exige do governador a indicação urgente de um titular para a Pasta. Amanhã chegaremos ao 15º da saída do secretário Carlyle Lavor, como prova o anúncio feito por este jornal, no dia 5 de maio. Carlyle, na entrevista concedida no fim da semana anterior, deixou bem explícita a necessidade de uma reformulação na estrutura da secretaria e outras providências que não pode adotar. Cada dia sem o auxiliar para cuidar desse setor, mais desgastes acumulará o governador na sua imagem de eficiência, e na do Governo de presteza.
Edison Silva
Editor de Política do Diário do Nordeste
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