domingo, 15 de março de 2015

Precisamos de uma cultura de paz e tolerância

Apesar de me considerar uma pessoa otimista, confesso que me sinto cansada de ver tantas imagens negativas e de ler tantos textos catastróficos ultimamente. Parece que as pessoas perderam a noção da lógica, da verdade e do bem viver. Não me considero alienada e nem acomodada, pelo contrário, sou adepta e promovedora de mudanças, mas desde que tenham um sentido, coletivo ou individual. Não posso concordar com as pessoas que estão pregando o terror na mídia e redes sociais como forma de mudança. Outro dia, recebi um vídeo que abri inocentemente pensando tratar-se de um lançamento de filme, e fiquei estarrecida ao ver que eram cenas de terroristas cortando cabeças com seus mínimos detalhes. O que isso significa? Até que ponto chegamos com estas imagens grosseiras sendo enviadas para os amigos como se fossem presentes? 
O mundo atual parece agonizar no nível das relações humanas, das relações políticas e sociais que estabelece. Dos quatro cantos da Terra, conflitos, violências, guerras, atentados, chegam aos nossos ouvidos, afligem nossas mentes, ferem nossa sensibilidade, ameaçam nossa capacidade de amar e impedem acordos de paz, tanto os pessoais como os internacionais. Somos ainda culturas arrogantes, tolas e intolerantes, com dificuldades de pedir desculpas e de perdoar os outros. Ao invés disso, a intolerância tem sido aguçada, e parece tornar-se um meio de afirmação, sobretudo nos jovens, que têm reagido com violência às mínimas frustrações ou confrontos relacionais. Bate-se nas pessoas por motivos tolos e mata-se banalmente. É muito estranha essa via de afirmação violenta.

Em nossa cultura, em nosso tempo, tolerância e bom senso tornaram-se valores obsoletos. Parecemos uma sociedade que perdeu o interesse pelo futuro. Essa apatia indica que não existem projetos coletivos que deem sustentação e sentido à vida. Esse vazio leva tanto as pessoas a se suicidarem, como a tornarem-se bombas vivas de ódio e intolerância. O corpo humano feito instrumento bélico, tornou-se a mais imprevisível das armas, contra a qual nada pode prevenir, a não ser uma maior valorização da vida e das pessoas. Parece que chegamos ao fim do poço da banalização de dimensões preciosas da existência. Instaurou-se a agonia como ingrediente do nosso cotidiano. As defesas arrogantes, os narcisismos feridos, as onipotências quebradas, ficam muito perigosas num mundo destituído de ética. E o curso dos acontecimentos não indica que o quadro se reverta em breve. Esses narcisismos são impregnados de ódio, as nações medem forças, impõem-se pela arrogância.
Na era da informação de massas e da política espetacular, a exaustão é permanente. A informação nos satura antes que a reflexão e a dinâmica social encontrem alguma solução. Somos invadidos por uma multiplicidade de imagens destrutivas que nos deixa sem fôlego. Ansiamos pelo oxigênio da paz. Mas a paz que se quer para si, para o mundo, para os povos, terá de começar por cada um de nós. Teremos de reaprender o gosto pelo ético, pelo relacional, pelo amoroso. Desconstruir hábitos perversos de gozar com a dor alheia, de querer vitórias ao preço da autoestima dos outros.
A paz que buscamos como seres humanos, como cidadãos do mundo, terá de processar corajosamente transformações internas que instalem em nós o exercício da tolerância, a capacidade do perdão. Do contrário, seremos como o lindo robô de Spielberg no filme “Inteligência Artificial”, que embora programado para amar, vivia na inquietude de não ser humano, não podendo, portanto, ser feliz!

Zenilce Bruno

zenilcebruno@uol.com.br
Psicóloga, pedagoga e sexóloga

O Povo

Nenhum comentário:

Postar um comentário