sexta-feira, 13 de março de 2015

País em crise e a culpá é da mídia ?

Difícil uma roda de gente esclarecida que o tema mídia não entre em discussão. Jornalistas, jornalismo, veículos são facilmente apontados como estimuladores da atual crise e criticados por quase todos. Esta semana eu ouvi uma jovem professora universitária afirmar que não tem “espírito” para ver noticiário político de TV nem ler sites de notícias. “Sofro tão imensamente que desisti, me faz mal físico”.

Em primeiro lugar, me causa estranheza que num momento da história humana em que cada um de nós pode ser uma mídia, a chamada “mídia tradicional” ganhe força como incentivadora da crise política em que o governo se meteu junto com algumas embrulhadas econômicas que poderia ter evitado. A Escola de Frankfurt aparece intacta numa hora dessas, fazendo surgir um jornalismo medonho capaz de manobrar a mente de pessoas incautas sem nenhuma reserva de opinião.

Em segundo lugar, é importante dizer que não existe conhecimento ingênuo, tampouco notícia neutra que não fede nem cheira, até porque não há leitura inocente. Todos nós lemos e ouvimos como tudo o que somos. Em terceiro, é bom lembrar que o papel do jornalismo continua sendo o de informar, investigar e analisar fatos que compõem nossa história cotidiana, além de fazer leituras do passado. E é claro que os tempos de crise são pródigos em notícias difíceis. E isso é problema do jornalismo ou da conjuntura? A questão é do jornalismo ou está cada vez mais emblemático encarar que nossos sonhos recentes não se concretizaram? A questão é do jornalismo ou causa incômodo perceber os baixos níveis da nossa política e dos nossos políticos de todos os partidos? É mesmo o jornalismo praticado por todos os veículos que é tendencioso ou gostaríamos que todos conspirassem a favor do que nós cremos e queremos?

Concordo que existe jornalismo mal feito e pessoas fazem mau uso da atividade, mas cada um é livre para não escolher nem comprar ou acessar ou ler algo que julga não ser de boa qualidade com informação bem apurada, análise com fundamento, interpretação com angulações condizentes. Além do mais, temos hoje todas as possibilidades e ferramentas para opinar a respeito de tudo e de todos. Podemos por exemplo – o que não seria uma boa ideia – ler e ver apenas aqueles com quem concordamos. No geral, o bom mesmo é poder criticar veículos, governo e jornalistas. 

Regina Ribeiro
reginah_ribeiro@yahoo.com.br
Jornalista/O POVO

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