Essa é uma história que já começou de modo equivocado, quando, na disputa para a presidência da Câmara dos Deputados, os candidatos agiram como se estivessem em uma eleição geral, quando - como é costume no Brasil - os eleitores são abastecidos com promessas as mais diversas, algumas para agradar algum segmento específico da sociedade e outras que nunca serão cumpridas. Assim se comportaram os dois principais concorrentes, Arlindo Chinaglia (PT-SP) e Eduardo Cunha (PMDB-RJ), que foi eleito.
A fatura da eleição começou a ser paga esta semana pelo deputado Eduardo Cunha. Contrariando a necessidade de redução de gastos públicos, o comando da Câmara dos Deputados aprovou reajustes para vários benefícios a deputados, que provocarão aumento anual de R$ 150,3 milhões nas despesas da Casa. Foram majorados os valores para as verbas de gabinete, remuneração de assessores e auxílio-moradia. Deputados, que recebem um salário de R$ 33,7 mil, passarão a ter agora R$ 4.200 para alugar imóveis em Brasília, sendo que boa parte deles nem fica a semana inteira na capital do país.
Como se isso não bastasse, Eduardo Cunha autorizou que a cota de passagens também poderia ser usada pelas mulheres (e maridos) dos parlamentares para se deslocarem de suas cidades até Brasília. A propósito, essa foi uma das promessas que Cunha fizera a um grupo de mulheres de deputados, quando, em campanha, reuniu-se com elas e ouviu o pedido de volta da benesse, que havia sido abolida em 2009, após o escândalo que ficou conhecido como a “farra das passagens”.
O presidente da Câmara garantiu que o reajuste dos benefícios não aumentaria as despesas, afirmando que iria economizar em funções administrativas. Ele, porém, não explicou como isso ocorreria.
O Brasil talvez seja um dos poucos países do mundo em que uma categoria (os parlamentares) tem o poder de aumentar os seus próprios salários e benefícios, o que é uma distorção inaceitável. Isso deveria fazê-los ter um mínimo de prudência e consideração com o dinheiro público. Agindo dessa maneira o que Eduardo Cunha consegue é fazer com que as pessoas olhem com cada vez mais desconfiança para a atividade política, o que é um desserviço ao país e à democracia.
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