Ajá difícil convivência nas redes “sociais” tem beirado o insuportável para um bom número de usuários do Facebook e Whatsapp desde que o segundo turno das eleições foi anunciado. Difícil encontrar quem não tenha se intrigado, bloqueado, excluído contatos ou se decepcionado com amigos por causa de divergências na opção de voto. O pano de fundo da discórdia? A polarização entre Dilma Rousseff (PT) e Aécio Neves (PSDB) e o acirramento da disputa nesta fase de “tudo ou nada”. A eleição se encerra no dia 26 – a radicalização do debate, no entanto, pode até piorar.
O farmacêutico Raony Milet, 28, já perdeu dois amigos por causa de postagens no Facebook com teor político “cego”, conforme classifica. “Não estou só bloqueando, estou excluindo mesmo, e excluindo da vida”, conta. “Alguns amigos são bem petistas e eu já deixei de seguir nas redes sociais há muito tempo, mas ainda tenho contato, converso. Com os peessedebistas é que eu estou tendo aversão. É muita paixão e pouca razão”, critica Raony.
No grupo de Whatsapp do qual faz parte o dentista Ítalo Costa Montenegro, 37, o bate-papo descontraído deu lugar a embates de “torcidas” adversárias de Dilma e Aécio. Na turma de cerca de 20 eleitores majoritariamente pró-tucano, a convivência com o único “dilmista” se tornou incômoda – ao ponto de a administradora do grupo promover uma enquete para decidir se o colega deveria ser excluído da lista.
Duas pessoas saíram do grupo depois que as brigas e o festival de vídeos, fotos e notícias provocativas começaram a piorar. “Eu conheço gente que deixou de se falar nessa eleição. As pessoas estão misturando as coisas”, constata Ítalo.
A guerrilha política e a exasperação dos ânimos diante do temas que mexem com paixões existem desde que o mundo é mundo, mas, nas redes sociais, alguns ingredientes contribuem para o esgarçamento das relações. “A gente se sente mais livre pra dizer coisas on-line e emitir opiniões quando não estamos fisicamente perto do interlocutor. É mais fácil escrever e dar um clique do que se engajar em uma discussão”, observa o psicólogo Paulo Lopes, do Núcleo de Pesquisas em Psicologia e Informática, da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP).
Facebook, Whatsapp e outras redes de relacionamento expõem, ainda, outro fenômeno humano: “Quando a gente se junta em grandes grupos, tende a ficar mais hostil, a ser mais assertivos diante de quem se opõe diretamente a nós. Você polariza mais, já que está respaldado pelo apoio dos seus”, explica.
O POVO foi em busca de casos de parentes e amigos que conseguiram estabelecer regras para “evitar a fadiga” no ambiente virtual. A leitura continua na próxima página – ou clique.
Política X namoro
Não foi traição, indiferença ou falta de amor. O namoro de um estudante universitário de 22 anos, que pediu ao O POVO para não ter a identidade revelada, chegou ao fim após três anos e meio por causa de diferenças políticas. Três semanas antes do primeiro turno da eleição, eles resolveram, romper. Em parte, pelo engajamento do jovem na militância, mas também pelos atritos ideológicos entre os dois. “Além das brigas que todo relacionamento tem, passamos a brigar também por política. O desgaste foi quase total. Fiquei muito dedicado à campanha proporcional e, nas poucas conversas que tínhamos, sempre discutíamos por conta das divergências politicas”, conta o estudante. “Defendo um plano voltado para o social e ele não percebe isso como prioritário num governo. Além disso, teve a polarização PT x PSDB, que desta vez pesou. Acho absurdo uma pessoa votar em alguém que é a favor da redução da maioridade penal, e ele votou”.
O POVO
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