O Boeing 777 da Malaysia Airlines, que caiu em território ucraniano nesta quinta-feira, levava 108 pesquisadores, ativistas e membros de ONGs que estavam viajando para participar da 20ª Conferência Mundial de Aids, em Melbourne, na Austrália. A queda do avião, que causou a morte de todas as 298 pessoas a bordo, tornou-se alvo das atenções da comunidade internacional e está sendo investigada. Suspeita-se de que a aeronave foi derrubada por um míssil
Trevor Stratton, um consultor sobre a Aids, disse em entrevista a uma rede australiana que a cura da doença poderia estar no avião que caiu.
- A cura da Aids poderia estar a bordo daquele avião, simplesmente não sabemos - disse Stratton.
Cientistas do mundo são unânimes ao dizer que o episódio representa uma perda enorme para a comunidade acadêmica. Um dos pesquisadores, Joep Lange, foi presidente da Sociedade Internacional de Aids, entre 2002 e 2004, e vinha atuando como diretor do Departamento de Saúde do Centro Acadêmico de Medicina da Universidade de Amsterdã. Recentemente, o pesquisador divulgou um estudo que demonstra, pela primeira vez, como um composto probiótico poderia atuar no vírus HIV.
Há quem diga que a esperança de uma cura para a Aids num futuro próximo pode ter se perdido com a queda do Boeing. Em 2001, Lange criou a PharmAccess, uma fundação sem fins lucrativos cujo objetivo era melhorar o acesso aos medicamentos e tratamentos da Aids em países pobres. O pesquisador contribuiu no desenvolvimento de terapias combinadas a preços acessíveis e em meios de prevenir a transmissão do vírus da mãe para o bebê.
A diretora da Unaids Brasil, programa conjunto das Nações Unidas sobre HIV/Aids, Georgiana Braga-Orillard, afirmou que a morte dos pesquisadores no voo é uma perda muito grande.
- Estamos esperando a confirmação oficial. Não são somente cientistas. Tivemos informações que ativistas e membros de ONGs que fazem parte da luta contra a Aids também estariam no voo. A perda é muito grande, estamos tristes.
Para Georgiana, as mortes causarão impacto na luta contra a doença.
- Esperamos que se confirme o mínimo de mortes. Haverá um impacto nas pesquisas e nas políticas. Sabemos que muitos holandeses estavam cadastrados para aquele voo e a Holanda é um país que financia muitos projetos e possui um debate avançado sobre o tema. Mas não temos confirmação, logo, torcemos para que o impacto seja o menor possível.
David Cooper, professor da Universidade de New South Wales, em Sidney, afirmou à agência Reuters que Lange tinha um compromisso absoluto com a pesquisa contra a doença e dava atenção especial aos países da Ásia e África.
- Ele nunca aceitava algo como impossível.
A Sociedade Internacional de Aids, que organizou a conferência, expressou suas condolências pela morte dos pesquisadores e afirmou que irá cooperar com as autoridades.
“Em reconhecimento à dedicação dos nossos parceiros na luta contra o HIV/ Aids, a conferência vai continuar como planejado e vai incluir oportunidades para refletir e lembrar aqueles que perdemos”, afirmou em nota.
O atual presidente da sociedade, em entrevista a jornalistas, manifestou seu pesar.
- Nesse momento incrivelmente triste e delicado, a Sociedade Internacional de Aids está ao lado de nossa família internacional e envia condolências aos entes queridos daqueles que perderam alguém nessa tragédia - disse Chris Beyrer que afirma que com a morte de Lange, "o movimento HIV/Aids perdeu um gigante".
O Globo
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