Fábio Campos/OPOVO
Há exatos 30 anos o Brasil viveu um dos momentos mais memoráveis de sua História. Sem um quebra-quebra, sem distúrbios de rua, sem mascarados, no mais absoluto espírito democrático, milhares de brasileiros foram às ruas pedir a retomada da democracia com a pauta das Diretas Já.
O 25 de abril de 1984 foi como uma final de Copa do Mundo com a seleção brasileira. O País parou diante das TVs. Milhões de ouvidos colados nos radinhos de pilha para acompanhar a votação da Emenda Dante de Oliveira. A emenda das diretas.
Claramente agonizante, a ditadura ainda teve forças para mobilizar sua articulação política no Congresso Nacional. A base civil da ditadura militar esvaziou o parlamento e a proposta não conseguiu a maioria necessária para aprovar a emenda.
Foi praticamente o último suspiro da ditadura. Na sequência, a dinâmica da conjuntura se fez valer e o clima de mudança se instalou no País. Meses depois, a vitória de Tancredo Neves na disputa indireta soou como se “direta” fosse. Sem o apoio do PT, o mineiro conquistou a presidência da República usando as regras que antes havia colocado presidentes militares no poder.
O movimento pelas “diretas já” foi um marco histórico que, por uma característica muito nobre, jamais deve ser esquecida. Seu objetivo era instalar no Brasil a democracia representativa, a liberdade de imprensa, as liberdades individuais, a separação plena dos poderes. Graças ao “Diretas Já”, vivemos hoje o mais longo período de democracia da República brasileira.
Ao contrário de todos os movimentos anteriores que marcaram as manifestações de rua imediatamente antes e durante o período ditatorial, o “Diretas Já” não flertava com autoritarismos nem de direita e muito menos os de esquerda, que então estavam vivíssimos no mundo.
O político símbolo das “Diretas já” tinha um perfil muito diferente do que era cultuado pelas ortodoxias de então. Nunca havia sido preso. Nunca frequentou porões da ditadura. Jamais empunhou uma arma. O deputado federal Ulysses Guimarães era apenas um democrata.
Talvez por isso seja tão pouco lembrado. Talvez por isso não tenha seu rosto estampado em camisetas. Talvez por isso não seja um ídolo de rebeldias e arroubos autoritários. Certamente por isso, duas décadas após a sua morte, Ulysses está sendo esquecido pela democracia que ajudou a fundar.
Uma curiosidade: o 25 de abril marca também o dia em que se comemora a Revolução dos Cravos, que selou o fim da ditadura em Portugal. O evento do além mar acabou sendo muito mais lembrado entre nós que o “Diretas já”
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