Correio Braziliense |
A década de 50 foi para o Brasil uma das mais ricas da história. Ela começa, na verdade, em 1953 com a criação da Petrobras e se estende até 63, período em que nasceram a indústria automobilística, a bossa nova, o cinema novo, Brasília; foram criadas as primeiras grandes hidrelétricas; a Eletrobrás; o Código Brasileiro de Telecomunicações; a Lei de Remessa de Lucros; a concepção das reformas de base; realizada a III Conferência Nacional de Saúde, que lançou as bases da municipalização; a reforma agrária; e se conquistaram os bicampeonatos mundiais de futebol e de basquete e, ainda, Ademar Ferreira da Silva ganha duas medalhas olímpicas. A primeira foi em 52, mas isso já pode ser considerado prenúncio para a década que começava.
De lá para cá, talvez apenas entre 84 e 88, com as Diretas Já, a VIII Conferência Nacional de Saúde e a Constituinte, possa se pensar em um momento criativo e participativo como aquele. Neste 2013, 60 anos depois do início daqueles anos dourados, estão sendo colocados em discussão temas que podem estimular a criatividade e revitalizar a vida nacional. São eles: o voto aberto em confronto com o voto secreto; a liberdade de expressão versus o direito à privacidade; o marco civil da internet; a liberdade de manifestação versus o direito de ir e vir; o esvaziamento das grandes manifestações populares em função do comportamento violento de alguns setores (vândalos, da polícia ou de manifestantes) e a própria violência como forma de manifestação social.
Mais do que expõem por si mesmas, essas ideias publicitam a possibilidade de a nação (governo, instituições e povo) discutir nova ética, brasileira como a jabuticaba. O que é público, a obra ou a pessoa? Como estimular, proteger e garantir a ambos, sem inibir a livre manifestação?
Que vida queremos para nós mesmos e para os nossos netos? Quais os limites das liberdades individuais e coletivas que devem ser estabelecidos? E como chegar lá? Freud afirmava que as leis existem para conformar (dar forma a) uma civilização, de maneira a proteger o cidadão do governo, proteger o governo dos cidadãos e proteger uma pessoa de outra.
Não se trata de imaginar e propor um mundo perfeito e, por isso mesmo, inatingível. Mas de pensar que um mundo em que honestidade é cultuada como virtude, não atributo ético e culturalmente trabalhado pelas pessoas, merece ser repensado. As manifestações de rua que pipocaram em todo o país, as pesquisas de opinião, as cartas dos leitores nas mídias, os articulistas de jornais, revistas, rádios e tevês são pródigas em clamar por mudanças. Até o governo, monstro mamútico que não se prende a ideologias, fala em mudanças (o Mais Médicos é exemplo disso).
O país estava em ebulição cívica, que poderia ter sido mais criadora e dirigida para a expressão de anseios mais objetivos, entretanto a energia foi infelizmente contida pela violência de alguns. Violência que apareceu nas ruas e continua nos estádios de futebol. Questão interessante é por que não houve investigação coerente e consciente, nacionalmente falando, para conhecer mais sobre a violência e os violentos, quem os financiava e dava suporte, o que os atraía e quem se beneficiou com essas atitudes.
Uma coisa ficou patente. A violência afastou o povo das ruas e deu fim às manifestações. Mesmo com esse Congresso abúlico, ainda dá tempo de pensar sobre esse momento histórico brasileiro. E, se o Congresso não legisla nem discute, que se encontrem outros fóruns para isso. Se Einstein estiver certo e o universo for curvo, o infinito pode estar no começo
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sexta-feira, 3 de janeiro de 2014
Opinião:Um país em ebulição
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