No jogo político para 2014, o almoço na residência oficial de Águas Claras, que reuniu ontem petistas e peemedebistas, foi um lance com repercussões importantes. O governador Agnelo Queiroz (PT) recebeu o vice-governador, Tadeu Filippelli (PMDB), e os presidentes nacionais dos dois partidos, Ruy Falcão e o senador Valdir Raupp (RO), respectivamente do PT e PMDB, para discutir a reedição, nas próximas eleições, da aliança de sucesso em 2010. A imagem do possível compromisso, registrada pelos fotógrafos, provocou interpretações diversas. Em algumas fotos, os quatro políticos aparecem de mãos dadas, em sinal de união.
Depois do encontro, os discursos tinham tons diferentes. Agnelo comemorou a confirmação da parceria com o PMDB. Filippelli foi mais cauteloso. Disse que o almoço representou um "primeiro passo para a reedição da aliança". Independentemente da avaliação de cada um dos presentes, para o meio político, o recado foi claro.
Desavenças que levaram a um afastamento entre Agnelo e Filippelli podem ser superadas e a aliança tem tudo para se repetir. Basta apenas que o governador do DF e, principalmente, os petistas compreendam a importância de um possível acordo com os peemedebistas. A avaliação entre os partidários do governador é de que a aliança com o PMDB enfraquece o time adversário e, por isso, a parceria precisa ser mantida.
Caminho próprio
Nos últimos meses, o vice-governador foi procurado por aliados que o incentivaram a um projeto próprio. Filippelli seria candidato ao Palácio do Buriti contra a reeleição de Agnelo. Nessa empreitada, contaria principalmente com o apoio do antigo mentor, Joaquim Roriz, e também com a ajuda do ex-governador José Roberto Arruda. O grupo receberia ainda a adesão do ex-vice-governador Paulo Octávio e do senador Gim Argello (PTB).
Na última semana, no entanto, as negociações dos diferentes atores políticos dificultaram a formação de uma coligação encabeçada por Filippelli, principalmente pela dificuldade que Roriz tem enfrentado para ingressar em um partido forte. Ele não conseguiu se acertar com o PSD, com o PSDB, nem com o DEM (veja a matéria da página 28).
Há duas semanas, o próprio Roriz perguntou a um antigo interlocutor político a opinião a respeito dos gestos de Filippelli. A avaliação foi de que, embora haja uma pressão no PMDB para lançamento de candidatura própria, Filippelli terá dificuldades para romper com Agnelo. Para o governador do DF, a reunião de ontem tornou-se importante até para o funcionamento do governo.
"O encontro é um recado que passamos para nossas militâncias, do PT e do PMDB, de que temos intenção de reeditar a nossa aliança. Esse gesto sinaliza a unidade, de forma que possíveis divergências na base possam ser superadas", disse Agnelo ao Correio. Já para o vice-governador, o tempo dirá se a afinidade das eleições de 2010 será recuperada. "Foi um primeiro passo para a reedição da aliança", afirmou ao Correio.
Existe um desconforto de peemedebistas, que cobram mais participação nas decisões do governo. Outros sentem-se aliados excluídos. É o caso, por exemplo, dos deputados distritais Wellington Luís e Robério Negreiros, do PMDB. Valdir Raupp disse ao Correio que há pontos a serem ajustados, mas Agnelo demonstrou intenção de fazer os ajustes necessários. "No caso do DF, há uma boa vontade das duas partes. O almoço serviu até para afastar a ideia de que os dois partidos estavam estremecidos. (O acordo) Ainda não está totalmente decidido, mas é um ato simbólico que serve de até de referência nacional", afirma Raupp.
O presidente regional do PT, deputado Roberto Policarpo, está otimista. "Temos um compromisso de estarmos cada vez mais unidos no cotidiano do governo e de caminharmos juntos. Mas o martelo ainda não está batido, até porque as convenções só são no ano que vem", avalia o petista.
Briga em Santa Maria
A exoneração de Neviton Pereira Júnior da administração de Santa Maria, em agosto, por suspeitas de irregularidades, acirrou o embate entre PMDB e PT. A avaliação é de que o tratamento do governo Agnelo com o futuro candidato a deputado federal pelo PMDB não foi o de um aliado e sim de adversário.
Memória
Fim da polarização no DF
Em 2010, o PT e o PMDB uniram-se pela primeira vez em Brasília depois de se enfrentarem em todas as eleições anteriores para o governo. Foi um acordo costurado nacionalmente pelas cúpulas das legendas para a composição da chapa, encabeçada pela presidente Dilma Rousseff e que tinha como vice o presidente licenciado do PMDB, Michel Temer.
Convenção regional do partido, realizada em junho de 2010, aprovou, por 97 a 22 votos, a aliança entre peemedebistas e petistas. Foi derrotada no encontro a tese de lançamento de candidatura própria do PMDB ao Palácio do Buriti, defendida à época pelo então governador Rogério Rosso, que exercia um mandato tampão. Num primeiro acordo entre o PT e o PMDB, Rosso foi eleito chefe do Executivo pela Câmara Legislativa para administrar o DF por nove meses, depois da crise política que derrubou a administração liderada por José Roberto Arruda.
Para fechar a dobradinha com o petista Agnelo Queiroz, Filippelli desfez-se de uma parceria antiga que mantinha com o ex-governador Joaquim Roriz, de quem foi discípulo e principal aliado na condução das obras. O hoje vice-governador teve apoio nacional para impedir uma intervenção que desse a Roriz o controle dos rumos da legenda. Em seguida, Roriz desfiliou-se e migrou para o PSC, no qual se candidatou ao cargo de governador. Com problemas judiciais de elegibilidade, o ex-governador lançou a mulher, Weslian, na disputa com Agnelo, numa demonstração de que tem no clã familiar a sua prioridade na política.
O próprio Filippelli, que foi casado com uma sobrinha de dona Weslian, era considerado parte da família. Os dois, no entanto, estavam rompidos. Nos últimos meses, voltaram a se falar. O primeiro encontro ocorreu numa missa, em março, acertado por aliados de ambos.
Correio Braziliense
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quinta-feira, 26 de setembro de 2013
PT e PMDB sinalizam reedição de aliança
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