Nos próximos 30 dias a infidelidade partidária está liberada. A criação de dois novos partidos, o Solidariedade e o Partido Republicano da Ordem Social (PROS), criou também uma janela para o troca-troca partidário e provocou um turbilhão no Congresso Nacional. No dia seguinte à aprovação das novas legendas pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), sem analisar denúncias de fraudes na coleta de assinaturas, o dia no Congresso foi de intensas negociações dos dirigentes para atrair deputados. A expectativa entre líderes dos mais diversos partidos é que entre 25 e 50 deputados — o que representa de 5% a 10% da Câmara — troquem de sigla nos próximos dez dias. O dia 4 de outubro é a data-limite para os que desejam disputar as eleições de 2014 estarem em sua nova casa.
Além de estimular a infidelidade partidária, as duas novas legendas, sem ter um só voto, nascem com promessa de cofres cheios e já começam a receber as primeiras parcelas dos cerca de R$ 600 mil do Fundo Partidário a que terão direito por ano. Idealizador do Solidariedade, o deputado Paulo Pereira da Silva, ex-PDT, mais conhecido como Paulinho da Força, era cumprimentado a cada cinco passos que dava na Câmara. Já meio comprometido com a candidatura a presidente do tucano Aécio Neves (MG), seu novo partido provavelmente será o maior beneficiário do troca-troca.
O Solidariedade, no entanto, surge forte apesar de Paulinho declarar diuturnamente que está rompido com a presidente Dilma Rousseff e que, pessoalmente, tem o objetivo de apoiar a oposição nas eleições do próximo ano. Ontem, Paulinho fez uma visita a Aécio, pré-candidato do PSDB à Presidência, para agradecer ao apoio dele na criação do partido. O senador tucano evitou, no entanto, falar em alianças.
— A minha tendência é ir para o oposição e apoiar Aécio Neves. Mas a minha prioridade agora é filiar deputados federais. Depois, vamos discutir isso. Não sei quem está vindo, então, não posso fechar essa posição agora. O que combinei é que cada estado poderá negociar com quem quiser — disse Paulinho.
— É o primeiro partido que consegue se estruturar sem a bênção do governo e isso deve ser saudado. A pluralidade faz bem à democracia. Alianças serão discutidas no tempo certo — afirmou Aécio.
O partido mais prejudicado pelo surgimento das novas siglas deve ser o PDT, de onde vem Paulinho. Pelas contas dos dirigentes do Solidariedade e do PROS, sete dos 26 deputados podem deixar o partido nos próximos dias. A conta ainda pode crescer caso a Rede Sustentabilidade, da ex-senadora Marina Silva, consiga ser legalizada. Isso porque o deputado Reguffe — parlamentar proporcionalmente mais bem votado do país nas eleições de 2010 — vem conversando sobre a possibilidade de mudança para a nova legenda. O presidente nacional do PDT,
Carlos Lupi, passou ontem o dia em reuniões. Indagado sobre a possibilidade de perder 30% de sua bancada federal, foi cético:
— Não tenho ainda o número.
Mas cuidado, tem mais fofoca do que tudo — afirmou Lupi.
Se o Solidariedade pode auxiliar a candidatura do PSDB, o PROS tende a servir de apoio para a redução de danos na candidatura de Dilma Rousseff após a saída do PSB do governo. O governador do Ceará, Cid Gomes, vem sugerindo aos deputados com quem tem ligação para que migrem para o PROS.
Apesar do trabalho de coletar e certificar meio milhão de assinaturas, a criação de partidos é um grande negócio. Caso não tivessem um deputado sequer, as novas legendas receberiam por mês cerca de R$ 50 mil por mês. É o caso do PPL, que sem nenhum parlamentar, obteve em 2012 R$ 605,7 mil. Esse valor cresce substancialmente à medida que as bancadas engordam. Com 16 deputados, o pequeno PSC recebeu no ano passado R$ 10,8 milhões. Detentor da maior bancada do país, o PT, que tem 88 deputados, obteve no mesmo período, R$ 52,9 milhões.
Além do dinheiro na conta, os novos partidos têm em mãos um trunfo decisivo nas eleições majoritárias: o tempo de televisão na propaganda gratuita de rádio e TV Na eleição de 2010, cada deputado federal garantiu à campanha presidencial quase três se gundos na propaganda eleitoral.
Ontem na Câmara, líderes de legendas afetadas insinuavam que parlamentares estariam recebendo ofertas financeiras para migrar para as novas legendas. Nenhum, no entanto, assumia publicamente a denúncia. Indagado sobre as insinuações, Manato (PDT-ES), que está de malas prontas para o Solidariedade, negou que haja dinheiro para os parlamentares, mas admitiu que o novo partido promete repassar verbas para os diretórios estaduais.
Todos os partidos repassam verba para o estadual. É para ajudar a pagar água, luz, aluguel. Não é para mim, é para o partido se manter. Isso é fofoca para denegrir a imagem das pessoas _ rebateu Manato. (Colaborou Simone Iglesias).
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