sexta-feira, 19 de julho de 2013

Opinião: A reeleição de Dilma está nas mãos do BC

O emprego da presidente Dilma Rousseff depende, em grande medida, de como a alta de juros conduzida pelo Banco Central vai afetar o mercado de trabalho. A economia cresce num ritmo mais fraco do que o previsto e a queda da confiança das empresas e famílias é uma ameaça real à retomada da atividade, assinala a ata do Comitê de Política Monetaria (Copom) do BC, divulgada ontem. O aperto monetário executado neste momento atua com defasagens e tende a provocar aumento da taxa de desemprego, sobretudo em 2014, quando a presidente disputa a reeleição.
Alan Greenspan, ex-presidente do Federal Reserve, é apontado como o culpado por George Bush pai ter perdido um segundo mandato para Bill Clinton em 1992. Ben Bernanke, com sua política monetária não convencional, deu um empurrão nas chances eleitorais de Barack Obama no ano passado. No Brasil, a política monetária de Henrique Meirelles não atrapalhou a eleição de Dilma em 2010.
O próprio Meirelles, num depoimento feito no Congresso há alguns anos, criou uma das mais expressivas figuras de linguagem para descrever as defasagens com que opera a política monetária. O Banco Central abriu a torneira de água fria, mas por alguns instantes o chuveiro ainda vai jorrar água quente. Mas, em breve, será uma ducha fria, assim que a água passar pela tubulação.
Cenário é de risco para atividade e alta de desemprego
Os modelos de projeção econômica do Banco Central tem procurado, nos últimos anos, desvendar como funciona o encanamento da política monetária. São exercícios com dados passados, contextos e hipóteses muito particulares que não necessariamente se aplicam ao momento atual, mas ainda assim exemplos instrutivos. Um deles, o chamado Samba, que representa o que há de mais sofisticado na pesquisa de política monetária, mostra que altas de juros levam a um pico no aumento da taxa de desemprego entre dois e quatro trimestres depois de um choque da política monetária. Outros dos chamados modelos estruturais revelam que, quando o Banco Central faz um aperto nos juros, a taxa de desemprego começa a subir dois trimestres depois e atinge seu auge entre o quarto e o sexto trimestres.
Pela trajetória descrita num texto acadêmico que apresenta o modelo Samba, a transmissão da alta dos juros feita pelo Banco Central para a renda real se dá pelo resultado de duas forças. De um lado, a queda da inflação leva a um aumento do salário real. Mas o fator preponderante ao longo do tempo analisado é uma redução da renda real provocada pela perda de poder de barganha dos trabalhadores num ambiente com taxa de desemprego mais alta.
Dadas essas defasagens, no contexto econômico atual, em que a economia não é nada brilhante, estamos colhendo os frutos dos estímulos monetários feitos pelo Banco Central no ano passado, quando a autoridade monetária conduziu um ciclo de baixa que levou a taxa Selic ao seu menor nível da história. É meio confuso mesmo: o BC sobe os juros, mas a economia por ora é impactada pelos cortes feitos no passado.
"O Copom avalia que a demanda doméstica tende a se apresentar relativamente robusta, especialmente o consumo das famílias, em grande parte devido aos efeitos de fatores de estímulo, como o crescimento da renda e a expansão moderada do crédito", afirma a ata divulgada ontem. "Esse ambiente tende a prevalecer neste e nos próximos semestres, quando a demanda doméstica será impactada pelos efeitos remanescentes das ações de política implementadas em 2012."
O cenário central com que o Copom trabalha é de continuidade da recuperação gradual da economia. Mas, vistas hoje, as perspectivas para atividade econômica são menos favoráveis do que o Copom via em fins de maio. Naquela ocasião, o colegiado antecipava um crescimento muito próximo do potencial da economia, que muitos estimavam em 3% ou 3,5%. Hoje, assinala que a absorção doméstica cresce acima do Produto Interno Bruto (PIB), mas com uma ressalva importante: "O Comitê nota que a velocidade de materialização desses ganhos esperados pode ser contida caso não ocorra reversão tempestiva do declínio que ora se registra na confiança de firmas e famílias".
É nesse contexto que surgem dúvidas, em setores do governo, sobre a conveniência de promover um aperto na política fiscal para auxiliar a tarefa do Banco Central em controlar a inflação. Nos Estados Unidos, há economistas de linha mais liberal que dizem que um ajuste fiscal pode ter, na verdade, um efeito expansionista, por agir sobre as expectativas. Outra corrente advoga a tese de que os ajustes fiscais têm, sim, impactos negativo sobre a atividade econômica no curto prazo, apesar de seus inegáveis efeitos positivos para a tendência de expansão do PIB em prazos mais longos. Um ponto a considerar é que, hoje, o BC estaria menos disposto a acomodar uma expansão fiscal em sua política monetária.
Há chances de a popularidade de Dilma escapar ilesa do aperto monetário? Uma questão relevante é se a alta dos juros e a desaceleração econômica vão, de fato, provocar aumento do desemprego. Em 2012, a desaceleração econômica não foi acompanhada por uma baixa no mercado de trabalho.
Outra questão é quanto o desemprego vai subir, se de fato subir. Intuitivamente, existe um percentual de desemprego que, a partir do qual, o desconforto da população se torna tão intenso que as chances da reeleição se desidratam. No Brasil, entretanto, onde a experiência de reeleição é relativamente recente, esse percentual é desconhecido. Valor Econômico

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