Depois do resultado da pesquisa de opinião realizada pelo Ibope em parceria com o jornal O Estado de S.Paulo, a ex-ministra Marina Silva, que ainda tenta viabilizar o seu partido, o Rede, entrou definitivamente no radar do mercado financeiro.
O território conquistado por Marina, no vácuo das manifestações, tem sido reconhecido com sobressalto pelo mercado, que vê a potencial candidata às eleições presidenciais de 2014 como uma ameaça ao ambiente de negócios - em outras palavras, Marina não é vista como "market friendly".
Na pesquisa de opinião do Ibope - realizada entre os dias 11 e 14 desde mês - , no cenário com quatro candidatos, a presidente Dilma Roussef teve 30% das intenções de voto estimuladas, contra 22% de Marina Silva (sem partido), 13% de Aécio Neves (PSDB) e 5% de Eduardo Campos (PSB).
Comparando esse resultado com a pesquisa feita em março, a presidente Dilma despencou e Marina ganhou muito terreno. Em março, Dilma tinha 58% da intenção de voto estimulada, enquanto Marina tinha 12%. Aécio ganhou 4 pontos porcentuais, pois em março ele recebeu 9% das intenções. E Campos tinha 3%.
Mais ainda: na simulação de segundo turno feita pela pesquisa, a presidente Dilma Rousseff e a ex-ministra Marina Silva aparecem tecnicamente empatadas: Dilma tem 35% contra 34% de Marina.
Nas eleições presidenciais de 2010, a então candidata pelo Partido Verde (PV) ficou em terceiro lugar
no primeiro turno com quase 20 milhões de votos. Foi uma votação expressiva. E os investidores não estão fechando os olhos para esse cabedal político.
O partido que Marina tenta viabilizar junto à Justiça Eleitoral, o Rede Sustentabilidade, já conseguiu as assinaturas necessárias - coletou 500 mil assinaturas em menos de 4 meses - e inicia agora a etapa de validação junto aos Tribunais Regionais Eleitorais.
Um influente economista do mercado financeiro disse que não dá mais para ignorar a recente subida de Marina Silva nas intenções de voto. "Vamos ouvir com muito mais atenção cada declaração dela a partir de agora", afirmou.
Não passou despercebida por um economista de um banco estrangeiro a entrevista dada por Marina à revista Exame, na qual menciona que entre os economistas que ela vem se encontrando para formular sua plataforma de campanha está André Lara Resende, um dos pais do Plano Real.
"Será uma tentativa de Marina para dissipar uma resistência ou um temor do mercado?", indagou. Por enquanto, o sentimento é de desconfiança. A fonte explica o porquê: "Qual foi o grande conflito dela (Marina) que a fez deixar a pasta de Meio Ambiente do governo Lula? Ela brecou todas as licenças ambientais necessárias para os projetos de infraestrutura", comentou o economista.
No início deste mês, em entrevista exclusiva à repórter Daiene Cardoso, do Broadcast Político, serviço de informações da Agência Estado, Marina respondeu o seguinte quando indagada sobre inflação e crescimento econômico:
"Quem viveu os tempos da inflação sabe que esse é um assunto que deve ser levado a sério, nenhum governo pode descuidar ou deixar que sua ansiedade por resultados de curto prazo afrouxem a vigilância. Mas, hoje, talvez a queda de popularidade esteja preocupando mais a presidente e o PT do que deveria. Há uma pauta de problemas e uma agenda de mudanças e reformas estruturais que o governo deve enfrentar. Não se pode governar com os olhos fixos nas próximas eleições. O governo ficou refém de suas promessas de crescimento econômico e insistiu em estratégias de crédito e desonerações que têm limites e, se usadas indiscriminadamente, geram sinais contraditórios e descompasso, por exemplo, entre política fiscal e monetária. Baixo crescimento com alta inflação é um cenário ruim para qualquer economia."
Fontes do mercado financeiro fazem questão de enfatizar que, embora o tucano Aécio Neves tenha fracassado em ganhar o espaço que Dilma perdeu com as manifestações populares em junho, há uma tendência histórica dos eleitores brasileiros para a polarização nas eleições presidenciais - e essa polarização é mais clara entre Dilma e Aécio do que entre Dilma e Marina.
Mas, a "explosão" de Marina Silva nas pesquisas mais recentes de intenção de voto claramente enfraquece a tese de polarização.
Há, contudo, mais de um ano até as eleições presidenciais, portanto ainda é cedo para tomar a fotografia recente das pesquisas de opiniões como um jogo já dado. De qualquer forma, o ganho rápido de Marina e o desempenho decepcionante de Aécio, na visão das fontes ouvidas, é a de que o mercado está se atendo neste momento à observação do cenário.
Não ficou claro ainda para o mercado qual é, concretamente, o modelo de crescimento econômico que Marina defende. Por enquanto, a candidata potencial não se comprometeu com nada mais palpável.
Mas, as perguntas que interessam ao mercado são: qual será o efeito sobre as ações do governo Dilma
Rousseff da ameaça concreta de Marina Silva nas intenções de voto? Adotará Dilma uma postura mais populista em termos de política econômica, e fiscal em particular, para reconquistar o eleitorado?
A coluna do jornalista Fábio Alves foi publicada nesta sexta-feira, 19, no Broadcast, serviço de informações em tempo real da Agência Estado
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