A queda da popularidade da presidente Dilma Rousseff - de 27 pontos percentuais, depois da onda de protestos pelo país, de acordo com o Datafolha - pode ser atribuída à influência da classe média tradicional sobre os setores mais pobres da população. Essa é a opinião do diretor do instituto, Mauro Paulino, para quem o descontentamento dos estratos médios da sociedade, já detectado na pesquisa anterior, contagiou o segmento de renda mais baixa.
Paulino lembra que no levantamento feito nos dias 6 e 7 de junho, anterior às manifestações, a queda da presidente já havia sido alta em relação à pesquisa realizada em 20 e 21 de março, na faixa das pessoas de renda mais alta, que ganham mais de dez salários mínimos. A avaliação do governo havia saído de 67% de ótimo e bom para 43%, num declínio de 24 pontos percentuais. É um número semelhante à redução de 27 pontos no total da amostra, verificado agora. Mas como os mais ricos representam a minoria da população, a insatisfação não impactou o resultado geral, no qual Dilma havia caído oito pontos percentuais em relação ao levantamento de março.
Com os protestos, compostos majoritariamente por pessoas da classe média, é que os segmentos mais pobres teriam aderido à visão mais crítica. Na pesquisa do início de junho, a avaliação positiva da presidente entre as pessoas com rendimento até dois salários mínimos tinha caído, mas nem tanto, de 67% para 60%. Neste levantamento pós-manifestações, feito em 27 e 28 de junho, apenas 35% avaliaram o governo como ótimo ou bom. Ou seja, houve uma queda de 25 pontos percentuais - semelhante aos 27 pontos do geral e que reflete o peso populacional dos mais pobres.
"A classe média não tem peso populacional, mas tem grande influência. Foi o segmento que foi às ruas. Houve um efeito de pedra no lago, ajudado pela ampla divulgação dos canais de TV aberta, que dedicaram 140 horas de suas transmissões, em dez dias, para a cobertura das manifestações", afirma Paulino.
No primeiro dos grandes protestos em São Paulo, na segunda-feira, dia 17, 77% dos manifestantes tinham ensino superior completo ou incompleto enquanto a média da capital é de 24%.
O diretor do Datafolha afirma que o "gatilho", ou pano de fundo, para o descontentamento é a insegurança com o cenário econômico, que já aparecia na pesquisa de março. A expectativa de que o desemprego vai aumentar, por exemplo, vem crescendo. Em março, 31% concordavam com esta afirmação, o que subiu para 36% e 44%, nos levantamentos do mês passado.
O principal problema do país, no entanto, é a saúde, que saltou de 31%, em março de 2011, para 48% agora, bem à frente do segundo maior problema: a educação (13%).
"É quase um "top of mind". É algo que está aí gritando. Eu diria que se tivermos um chamado para manifestações nesta área, a revolta seria até maior, pois junta os mais pobres e a classe média, cuja qualidade dos planos de saúde vêm piorando", afirma Paulino. Valor Econômico
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