Em 1941, o escritor austríaco Stefan Zweig, exilado aqui durante a Segunda Guerra, publicou um livro que deu ao Brasil a famosa alcunha de país do futuro. Naquela época, quase 70% da população vivia no campo e metade das exportações era de produtos agrícolas. De lá para cá, a economia nacional deu saltos, ganhou destaque mundial e ofereceu à sociedade o melhor nível de vida de sua história. Mesmo assim, os brasileiros ainda não chegaram à terra prometida, embora não tenha faltado chances para isso. Pior: pagam caro hoje pela crise de confiança no futuro. Há várias situações nas quais o governo ignorou nos últimos anos vantagens próprias do território e do perfil populacional, além de raros momentos favoráveis da conjuntura externa. Se os tivesse levado em conta, importantes avanços poderiam ter ocorrido e as badaladas conquistas nas áreas social e econômica seriam consolidadas.
A espetacular onda de crescimento global verificada na primeira década do século, com grande fluxo de capitais especulativos e forte valorização dos alimentos e dos minerais vendidos ao mundo pelo Brasil, foi a folga perdida para a administração federal realizar reformas estruturais. Boa parte do desequilíbrio das contas externas e do desconforto fiscal da União é resultado dessa negligência diante da chamada bonança externa. Da mesma forma ocorreu com a janela aberta pelo bônus demográfico — como é classificado o período no qual a proporção de gente em idade ativa é bem maior em relação aos dependentes de auxílio previdenciário. Essa seria uma chance para ajustar as contas do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), no vermelho há 15 anos, que corre o risco de acabar sem ser em nada aproveitada.
Os disparates se repetem no dia a dia dos negócios do país, como recursos hídricos cada vez mais escassos se perdendo no esgoto e toneladas da safra recorde de grãos se espalhando pelas estradas esburacadas. É também de impressionar que a mais promissora zona agrícola do planeta, o Mato Grosso, apenas consegue armazenar um quinto da sua produção. Apesar de Zweig e outros analistas vislumbrarem infinitos alvos para o Brasil se desenvolver econômica e socialmente, a história mostra que a desatenção com as oportunidade de hoje cobram muito caro amanhã. O economista, diplomata e ex-ministro do Planejamento, Roberto Campos, apontou a classe dirigente como o maior gargalo do progresso nacional. Numa frase, ele resumiu bem as sucessivas frustrações com os cochilos do gigante: "O Brasil não perde a oportunidade de perder oportunidades". Oxalá os protestos populares que ganham as ruas possam produzir mudanças também na forma de se planejar o futuro. Em vez de o populismo abusar dos dias de fartura, em nome dos índices eleitorais, a racionalidade de Estado deveria estar presente, desarmando bombas e adubando o sucesso duradouro. Correio Braziliense
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