Diego Hypolito tenta reunir forças e se concentrar apenas em seus treinos. Os problemas fora do tablado o atormentam. Desde o início de março, quando foi dispensado pelo Flamengo, o ginasta anda estressado, fazendo seus exercícios no ginásio do Pinheiros, e morando em um hotel em São Paulo. Ele tentará colocar essas dificuldades de lado neste fim de semana, na etapa portuguesa da Copa do Mundo de Ginástica, em Anadia, para voltar a defender a seleção brasileira em uma competição internacional pela primeira vez depois dos Jogos Olímpicos de Londres, em 2012. O período com a seleção servirá para Diego fugir um pouco da complicada rotina. Ele, porém, sabe que terá de encarar tudo de novo quando retornar ao Brasil.
- O fato de esquecer um pouco não significa que eu não tenha que resolver isso depois. Este ano tem sido o de maior problema na minha carreira, porque aconteceram muitas coisas adversas. Eu ainda não estou sabendo lidar. Tenho ficado muito estressado. Tem Copa do Mundo agora, treinamento com a seleção, enquanto isso minha vida tem de ser resolvida no Brasil. A questão do clube é uma situação que me preocupa muito, porque vejo que estamos no início de um ciclo olímpico, e o Brasil segue morto em relação a investimentos gerais para as Olimpíadas. O Rio de Janeiro principalmente tinha grandes atletas da seleção de ginástica e agora não tem mais ninguém de referência, tem só as atletas futuras. O Rio tinha de acordar para isso - disse o ginasta.
Uma medalha no solo ou no salto em Portugal será lucro. Diego vê a prova como mais um passo no caminho rumo a seu grande objetivo: brilhar nas Olimpíadas do Rio de Janeiro, em 2016.
- Essa Copa do Mundo é uma grande experiência para eu voltar ao cenário internacional e ser visto pelos árbitros, para mostrar que eu estou almejando competir nas próximas Olimpíadas, querendo uma medalha. É para um objetivo mais a longo prazo. Eu ainda tenho o sonho e o objetivo de ser um medalhista olímpico, ainda acredito que posso. Agora, não tenho nenhum intuito de chegar lá e querer ganhar. Meu grande objetivo deste ano é retornar às competições e voltar a me sentir adaptado. No final do ano passado fiz alguns reajustes no meu próprio corpo - disse Diego.
Não bastasse estar sem clube, amparado apenas pelo COB (Comitê Olímpico Brasileiro), o bicampeão mundial do solo teve de passar por três cirurgias depois de Londres - ele fez oito em sua carreira. O ombro e o pé direito o tiraram dos treinos por seis meses, o que fez o ginasta engordar 8kg. Diego já voltou ao seu peso ideal, mas ainda não está no ritmo.
- Um dos meus objetivos é treinar com menos dor, sem tomar remédio, fazendo muita fisioterapia e manutenção. Nesses meses, eu fiz muito trabalho de academia. Isso tem me ajudado a manter meu corpo sem lesões. Quero disputar de quatro a cinco competições por ano. Antes eu competia umas dez. Quero voltar a me mostrar presente. Começar a me lesionar menos, porque em todos os ciclos, eu cheguei muito arrebentado no ano mais importante. Não pode ser assim. Tenho de caminhar devagar para chegar bem ao meu objetivo final - declarou o ginasta.
Diego chegou às Olimpíadas de Pequim 2008 e Londres 2012 como candidato ao pódio do solo, mas quedas o impediram de ser medalhista olímpico. Ele deu seu primeiro passo rumo ao Rio 2016 no mês passado, quando participou do Troféu Brasil de ginástica artística.
- No Troféu, eu ainda não estava nem perto de estar bom. Competi para ver como iria me portar. Eu fiquei muito nervoso antes de entrar nos aparelhos pela volta, por estar competindo em mais aparelhos além do solo e salto. Na Copa do Mundo de Portugal, quero conseguir fazer a série que apresento nos treinamentos, que é de nota de partida 16,50 pontos, sem me cobrar tanto.
No Mundial da Antuérpia, na Bélgica, entre 30 de setembro e 6 de outubro, Diego espera fazer uma série ainda mais forte. A competição é o maior objetivo dele no ano.
- Ainda está distante do Mundial. Estou fazendo minha série bem, está bonita, mas ainda tem muitas mudanças até chegar o Mundial. Se eu for convocado mesmo, meu objetivo é fazer uma série de 16,80 pontos, que é uma nota de partida alta. A média está 16,50 pontos. Já é um diferencial, mas quero me sentir mais seguro.
'Nenhuma luz'
O chão de Diego Hypolito desmoronou pouco a pouco. Primeiro, o ginásio do Flamengo foi destruído por um incêndio. Depois, o centro de treinamento do COB no Velódromo, construído para o Pan de 2007, foi desativado para dar lugar a uma outra pista em novo local do Parque Olímpico. O golpe final foi o desligamento do Fla, em março. Junto com Sergio Sasaki, Petrix Barbosa e Caio Campos, o ginasta se viu obrigado a se mudar do Rio de Janeiro para hotéis de São Paulo para poder treinar no Pinheiros, em um acordo do COB com o clube paulistano. O campeão mundial não vê um desfecho claro para seu turbilhão.
- Não vejo nada que esteja claro de para onde os atletas desempregados vão. Estamos em um ginásio que não é nosso, ginásio de um clube diferente, que nos recebeu muito bem, mas acho que temos de dar um passo adiante. Muitas pessoas me ligam, perguntando por uma solução. Eu não sei o que fazer. Não sou empresário, não sou gestor. Só sei que tem alguma coisa muito errada. Não consigo ter o entendimento de atletas que têm chances de serem medalhistas olímpicos não consigam se manter. O Ministério tem um plano de medalhas, mas estamos em junho e nada aconteceu. Tudo está atrasado. Tem de existir um movimento do Rio. Parece que somos os pedintes, mas deveria ser uma obrigação. O ciclo olímpico começou e não vejo ainda nenhuma luz - finalizou.
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