terça-feira, 15 de janeiro de 2013

Senador Cristovam Buarque critica submissão ao Executivo

Diante do fracasso das tentativas de lançar um concorrente politicamente viável ao líder do PMDB, Renan Calheiros (AL), na eleição para a presidência do Senado, o senador Cristovam Buarque (PDT-DF) está enviando carta aos colegas com duras críticas à "falta de transparência", "desvios éticos", "submissão" ao Poder Executivo e "inoperância" da gestão nos últimos anos. Para ele, o resultado é um Legislativo "incompetente e inconsequente".
Cristovam, que já enviou o documento para mais da metade dos senadores e tem recebido sugestões, busca apoio para a divulgação de um documento cobrando do próximo presidente compromisso com medidas para "recuperar a eficiência e a credibilidade" da Casa. Entre as sugestões - que recebeu de João Capiberibe (PSB-AP) -, está a criação de uma comissão de parlamentares para acompanhar e fiscalizar a administração do biênio 2013-2014.
"Nos últimos anos o Senado tem acumulado posicionamentos que desgastaram sua imagem perante o povo brasileiro, especialmente pela falta de transparência, pela edição de atos secretos, pela não punição exemplar de desvios éticos e pela perda da capacidade de agir com independência", afirma.
Além de "submissão" ao Executivo, aceitando as medidas provisórias os requisitos previstos na Constituição, o senador aponta "inoperância" do Congresso, citando como exemplo a não apreciação de 3.060 vetos presidenciais acumulados por quase 20 anos. Nesse tema, classifica como "ridícula" a tentativa de votar esses atos pendentes em uma tarde - numa estratégia comandada pelo presidente, José Sarney (PMDB-AP), e líderes partidários com o objetivo de apreciar o veto da presidente Dilma Rousseff à nova repartição da receita do petróleo. Cristovam integra o grupo suprapartidário de senadores que pretendia lançar uma alternativa viável à sucessão de Sarney, mas fracassou. Embora Pedro Taques (PDT-MT) e Randolfe Rodrigues (PSOL-AP) ainda admitam a colegas que podem se disputar, as chances de vitória são consideradas nulas, por falta de articulação.
O senador do PDT questiona o lançamento de um candidato sem chance, apenas para marcar posição. Prefere coletar apoios para um documento cobrando compromissos do próximo presidente com uma profunda reforma na administração, que dê à Casa um "novo rumo".
Na carta aos colegas, Cristovam compara o processo eleitoral da próxima Mesa Diretora, a ser escolhida em 1º de fevereiro, às eleições do passado, comandadas por "coronéis" da política.
"Voltaremos [do recesso] apenas para ratificar o nome, nomeado sem apresentar qualquer proposta que mude o nosso funcionamento. Votaremos como os eleitores que iam às urnas na Primeira República, levando a cédula sem conhecer o nome do candidato escrito nela pelos antigos coronéis de interior", afirma. A condição de Renan como o candidato do PMDB - partido que tem o direito ao cargo por ter a maior bancada - é conhecida, mas o líder adia a oficialização de sua candidatura, para reduzir o desgaste com a lembrança de processos por quebra de decoro que sofreu e exposição a novas críticas. É exatamente o que está acontecendo com o líder do PMDB na Câmara dos Deputados, Henrique Eduardo Alves (RN). Candidato a presidente daquela Casa, está sofrendo denúncias na mídia.
No documento que está enviando aos senadores, o representante do DF lembra recentes motivos de desgaste da Casa, como a não votação do Orçamento para 2013 e a não definição de novos critérios de rateio do Fundo de Participação dos Estados até 31 de dezembro de 2012, descumprindo determinação do Supremo Tribunal Federal (STF). O Legislativo jogou "as finanças dos Estados em um abismo", avalia.
Acrescenta o fim "vergonhoso" da CPI do Cachoeira e o "equívoco" cometido pela administração do Senado por não descontar Imposto de Renda de parte do salário dos senadores. Para o representante do DF, a consultoria jurídica do Senado tem feito "análises frágeis" e precisa de uma reforma.
"Tudo isso exige que a eleição de um novo presidente seja feita com debates entre nós senadores para, antes da eleição, sabermos quais as propostas para recuperar a eficiência e a credibilidade do Senado, ajudando a recuperar a de todo o Parlamento", diz Cristovam na carta. Critica a falta de debate de ideias entre os parlamentares, o plenário vazio e os discursos feitos "para a televisão". A primeira sugestão apresentada por Cristovam é a realização de reuniões ordinárias de segunda a sexta, para limpar a pauta de assuntos importantes como os vetos presidenciais, a reforma política, o Código Civil, as reformas no regimento e na estrutura do Senado, as relações com os demais poderes (inclusive como tratar as MPs e como evitar a judicialização da política), o novo Plano Nacional de Educação e a revisão dos critérios de distribuição do Fundo de Participação dos Estados.
Também pede um mecanismo que "impeça o rolo compressor nas votações", reforma da consultoria legislativa para impedir os "erros recentes", manifestação explícita dos votos em comissões e plenário, cumprimento dos prazos regimentais, redução do número de comissões, escolha de relatores por "critérios republicanos pré-definidos", com rodízio entre todos os senadores e criação de um comitê de senadores para acompanhar e fiscalizar as decisões tomadas pelos servidores e pela mesa diretora.
"Este comitê asseguraria total transparência aos processos licitatórios, inclusive com divulgação ampla pela internet de todas as receitas e gastos do Senado, mantendo os senadores permanentemente informados sobre a gestão da Casa", propõe.
Cristovam defende que o próximo presidente garanta o "papel fiscalizador" do Senado, instalando automaticamente todo pedido de comissão parlamentar de inquérito feito pelo número mínimo de senadores, exigido pela Constituição. Essa ideia foi apresentada por Randolfe.
O senador do PDT termina a carta, cujo título é "Uma nova presidência e um novo rumo para o Senado", pedindo sugestões aos colegas para "ajudar a reorientar os rumos" do Legislativo.

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