quarta-feira, 2 de janeiro de 2013

As eleições que vão definir os rumos do mundo em 2013


Após um ano em que três dos cinco membros do Conselho de Segurança das Nações Unidas (França, China e Rússia) trocaram seus chefes de governo e os Estados Unidos reelegeram Barack Obama, o mundo terá em 2013 novas eleições que podem provocar mudanças na política e na economia internacionais.
A América do Sul e o Oriente Médio são as regiões que concentram mais eleições decisivas. Neste ano, Chile, Equador e Paraguai vão às urnas escolher novos presidentes. Desses pleitos, o mais importante é o do Paraguai, atualmente suspenso do Mercosul por conta do golpe aplicado contra Fernando Lugo em junho passado. Caso as eleições sejam limpas, o país deve voltar ao bloco.
No Oriente Médio, a situação é mais tensa. Em 2013, Israel deve manter o radical Benjamin Netanyahu como premier, mas o Irã escolherá um novo presidente. Além dos dois inimigos, vão às urnas países afetados pela chamada “Primavera Árabe”. O Egito elege um novo Parlamento e a Tunísia parte para eleições gerais após um período de transição. Dois países afetados pelo conflito na Síria também terão eleições: a Jordânia, que recebeu mais de 200 mil refugiados, escolhe um novo Parlamento, assim como o Líbano, onde a política é, em grande medida, definida pela relação com o governo sírio.
A eleição mais importante do ano deve ocorrer na Alemanha. A chanceler Angela Merkel é a favorita para continuar no posto, mas deve precisar reorganizar a coalizão governista. Isso pode afetar a forma como a maior economia europeia lida com a crise econômica no continente, um problema cujas repercussões irradiam por todo o mundo.
Confira abaixo as dez principais eleições de 2013:
1) Alemanha – Eleições parlamentares
Angela Merkel durante discurso em 31 de dezembro. Nas mãos dela estão as principais decisões que afetam os rumos da Europa. Foto: John Macdougall / AFP
Em setembro, a chanceler da Alemanha, Angela Merkel, tentará conseguir seu terceiro mandato à frente da maior economia da Europa. A boa situação do país em meio à crise no continente torna seu partido, o conservador União Democrática Cristã, o favorito. A também conservadora União Social Cristã deve ser uma parceira importante na coalizão, mas os liberais do Partido Livre Democrático devem ficar sem representação parlamentar. Sem maioria, Merkel deverá ser obrigada a fazer uma aliança com o Partido Verde ou com o partido social-democrata A Esquerda, principal força da centro-esquerda. Se isso ocorrer, há uma grande chance de as políticas alemãs para combater a crise sofrerem modificações, arrastando com elas toda a Europa.
2) Irã – Eleição presidencial
Ahmadinejad durante discurso. Ele tem muitos inimigos e não quer acabar no ostracismo, ou na cadeia. Foto: Emmanuel Dunad / AFP
Presidente do Irã desde 2005, Mahmoud Ahmadinejad não pode mais concorrer ao cargo. Por isso, até 14 de junho, quando os iranianos vão às urnas escolher seu sucessor, ele usará o fim de seu mandato para coletar material contra os inúmeros inimigos que colecionou nos últimos anos. Para isso, Ahmadinejad pode até tentar fazer o processo eleitoral descarrilar. Em sua empreitada, Ahmadinejad deve ter como obstáculo o líder supremo do país, o aiatolá Ali Khamenei. O religioso deseja um processo eleitoral tranquilo e uma eleição legítima para limpar a imagem deixada pela reeleição de Ahmadinejad em 2009, quando denúncias de fraudes provocaram a maior manifestação popular do país desde a Revolução Iraniana de 1979.
3) Israel – Eleições parlamentares
Netanyahu durante lançamento da campanha, em 25 de dezembro. Seu governo é altamente popular. Foto: Gali Tibbon / AFP
O primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, é o favorito para formar o novo governo depois das eleições parlamentares de 22 de janeiro. Seu partido, o Likud (direita), se aliou ao Yisrael Beitenu, ainda mais radical, e formou uma chapa extremista que parece imbatível no atual clima político israelense. A vitória deve permitir que Netanyahu siga com seu programa de governo, que inclui intransigência nas negociações com os palestinos, um discurso bélico contra o Irã, hostilidade direcionada aos imigrantes não-judeus e leis cada vez menos liberais. Partidos religiosos de direita, que pregam teocracias judaicas, podem se aliar a este novo governo. A centro-esquerda deve ter um bloco significativo no Parlamento, mas ainda luta para reconstruir o discurso de que, sem a paz com os palestinos, os caráteres judaico e democrático de Israel estarão ameaçados.
4) Egito – Eleições legislativas
Morsi faz discurso ao Senado egípcio em 29 de dezembro. A casa legislativa tem pouco poder, mas fará a função da Câmara até a eleição. Foto: AFP
No primeiro semestre deste ano, os egípcios vão às urnas eleger os 498 membros da Assembleia Popular, a principal casa legislativa do país. Para os setores liberais, esquerdistas e seculares, que se opõem ao presidente Mohamed Morsi, da Irmandade Muçulmana, a votação é a oportunidade perfeita para criar uma oposição legítima e democrática. Para isso, precisam se organizar de forma a conter suas diferenças e elaborar uma plataforma atraente aos egípcios. Caso não consigam uma representação ao menos razoável, a instabilidade deve aumentar no Egito. A Irmandade Muçulmana tem o presidente do país e conseguiu aprovar a Constituição que desejava. Se o grupo, e seus aliados salafitas, dominarem também o Legislativo, terão uma domínio da política do país que deixará a oposição acuada.
5) Itália – eleições parlamentares
Bersani, o candidato esquerdista (à esq.), cumprimenta em 28 de dezembro o promotor Piero Grasso. Conhecido pelo combate às máfias, Grasso deixou o MP para se candidatar pelo Partido Democrático, de Bersani. Foto: Andreas Solaro / AFP
Em 24 e 25 de fevereiro, os italianos elegem 630 deputados e 315 senadores num pleito que vai definir como o país continuará lutando contra os efeitos da crise econômica. O atual primeiro-ministro, Mario Monti, elogiado por autoridades europeias, vai se candidatar, mas parece ter pouco apoio internamente.
A disputa, assim, deve ficar entre figuras políticas conhecidas. Condenado por fraude, Silvio Berlusconi é o candidato da direita e tentará voltar ao cargo pela quarta vez. À esquerda, o candidato é Pierluigi Bersani, o favorito de acordo com as pesquisas de opinião mais recentes. De acordo com muitos especialistas, é possível que Bersani busque o apoio de Monti na formação do governo. Assim, ele ampliaria seu apoio no Senado (casa na qual a esquerda tem dificuldades) e atrairia setores que favorecem Monti, como as grandes empresas.
6) Paraguai – Eleição geral
Fernando Lugo, presidente deposto do Paraguai. Foto: Milciades Rodriguez
Ao derrubar Fernando Lugo num golpe em 22 de junho passado, os conservadores paraguaios conseguiram o que desejavam: controlar o Estado antes das eleições. Em 21 de abril, a população vai às urnas para a eleição geral e também para substituir o presidente golpista, Federico Franco. O candidato do governo será Efraín Alegre, do Partido Liberal. O Partido Colorado, que ficou 61 anos no poder até a vitória de Lugo, em 2008, lançou Horacio Cartes. O ex-general Lino Oviedo, que tentou um golpe em 1996, é outro candidato. Lugo tentará uma vaga no Senado, enquanto a frente de centro-esquerda que representa deve apoiar o médico Aníbal Carrillo.
7) Chile – Eleição presidencial
O presidente do Chile, Sebastián Piñera. Foto: Carl Court / AFP
A grande questão da eleição deste ano no Chile é sobre a capacidade de a Concertación voltar ao poder no país. A aliança de centro-esquerda, que elegeu todos os presidentes do Chile entre o fim da ditadura Pinochet (1990) e 2010, quando foi eleito o atual governante, Sebastian Piñera, está dividida. Há muitos pré-candidatos, mas a única que parece ter chances de uni-los é a ex-presidente Michelle Bachelet. Ela, no entanto, ainda não se manifestou sobre essa possibilidade. Na Coalizão para a Mudança, a aliança de direita à qual pertence Piñera, há dois pré-candidatos. Laurence Golborne Riveros, ex-ministro de Minas e Energia, e Andrés Allamand Zavala, ex-ministro da Defesa. O primeiro turno da eleição, que pela primeira vez não terá voto obrigatório, está marcado para 17 de novembro.
8) Equador – Eleição presidencial
Correa em imagem de 2010, após ser resgatado por militares que invadiram o local onde ele era mantido em cativeiro por policiais rebelados. A crise não afetou sua popularidade Foto: AFP
O esquerdista Rafael Correa buscará em 17 de fevereiro mais quatro anos de mandato para dar sequência à chamada “revolução cidadã”. Será mais uma prova para seu histórico de sucessos eleitorais. O primeiro se deu em 2006, quando foi eleito pela primeira vez. Depois, em referendo, conseguiu aprovar uma nova Constituição que prevê a reeleição. Em 2009, foi reeleito e agora busca mais quatro anos de mandato. Há oito candidatos, entre eles o ex-presidente Lucio Gutiérrez e o banqueiro Guillermo Lasso, mas Correa aparece à frente na maioria das pesquisas, impulsionado pelos aumentos frequentes no salário mínimo, pela ampliação do acesso à saúde pública e pelas melhorias na infraestrutura rodoviária do país.
9) Austrália – Eleições parlamentares
Julia Gillard com jogadores de críquete da Austrália e do Sri Lanka em 3 de janeiro, em Sydney. Em novembro, ela testa sua popularidade nas eleições. Foto: Manan Vatsyayana / AFP
O Partido Trabalhista australiano (esquerda) tentará em 30 de novembro obter seu terceiro mandato consecutivo na disputa contra a coalizão de centro-direita formada pelos liberais e nacionalistas. A missão é, mais uma vez, da atual primeira-ministra, Julia Gillard. Seu rival será o líder oposicionista Tony Abbott. O partido vencedor do pleito terá pela frente dois desafios: manter a Austrália como modelo de economia que cresce de forma ininterrupta por duas décadas com inflação e desemprego baixos e melhorar as relações do país com nações asiáticas, vizinhas desprezadas por décadas.
10) Zimbábue – Referendo / Eleição geral
Robert Mugabe, de 89 anos, é o ditador do Zimbábue desde 1987
O ano de 2013 pode ser marcante na história do Zimbábue, um dos vários países instáveis da África. Estão marcados para este ano um referendo constitucional e eleições gerais (presidencial e legislativa) que podem colocar o país no caminho do crescimento e da normalidade. As divisões entre o Zanu-PF, partido do presidente Robert Mugabe, ditador desde 1987, e o MDC, do primeiro-ministro Morgan Tsvangirai, no entanto, são tão grandes que podem fazer com que os pleitos nem mesmo saiam do papel. O grande temor é que as disputas voltem ao nível de tensão de 2008, quando um segundo turno entre Mugabe e Tsvangirai provocou uma onda de violência que deixou dezenas de mortos.

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