A menos de dois anos das eleições presidenciais, os principais nomes do PSB começam a disputar espaço em posições antagônicas, antecipando o tom de rivalidade que deve permear o partido no próximo biênio. De um lado, o governador do Ceará, Cid Gomes, e o irmão Ciro; do outro, o presidente nacional do PSB e governador de Pernambuco, Eduardo Campos. Embora anuncie o apoio a Dilma Rousseff, Eduardo não perde a oportunidade de falar como pré-candidato à Presidência. Já os irmãos Gomes tentam se mostrar mais confiáveis ao PT e ao Palácio do Planalto e, dessa forma, dificultar os movimentos do presidente da legenda.
O episódio mais recente foi a organização, por parte de Cid, de um encontro de desagravo ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva após a divulgação das denúncias feitas pelo empresário Marcos Valério. Cid e outros governadores foram ao Instituto Lula, em São Paulo, demonstrar solidariedade ao ex-presidente, apontado por Valério como beneficiário do mensalão com recursos desviados utilizados para pagamento de contas pessoais do petista. Eduardo Campos não estava presente no encontro.
De acordo com o vice-presidente do PSB, Roberto Amaral, Eduardo Campos foi avisado, mas não pôde ir porque o ato aconteceu no mesmo dia da diplomação de Geraldo Júlio (PSB), prefeito eleito de Recife e afilhado político do governador pernambucano. "Não tem nada de divisão. No domingo, o Eduardo estava em Fortaleza, ao lado de Cid, na reinauguração do Castelão", declarou o pessebista, tentando minimizar o desconforto do partido com a situação.
Há quase dois meses, a divisão de opiniões foi explicitada pela primeira vez, nesta fase de troca de farpas. A presidente Dilma Rousseff jantou, no Palácio da Alvorada, com Campos, Amaral e o secretário-geral do partido, Carlos Siqueira. A presidente disse que respeitava os desejos de crescimento do PSB e demonstrou querer manter a parceria com o PSB, desmontando os palanques conflituosos do partido com o PT, erguidos durante a campanha municipal.
No dia seguinte, Dilma almoçou com Cid Gomes, após uma cerimônia de entrega de prêmio na área educacional. O governador cearense aproveitou para lançar Eduardo Campos como vice de Dilma em 2014 e o atual ocupante do cargo, Michel Temer, como senador por São Paulo. "Eduardo não será vice em hipótese nenhuma", garantiu ao Estado de Minas um integrante da cúpula partidária.
Aproximação Candidato à Presidência da Câmara em fevereiro, o deputado Júlio Delgado (PSB-MG) acha que os movimentos dos irmãos Gomes são claros. "Eles querem demonstrar que são mais simpáticos e confiáveis para o Planalto e o PT, delimitando o espaço na legenda e garantindo que o partido esteja alinhado à presidente em 2014", disse ele. O momento é ainda mais propício porque, cada vez mais, o governador pernambucano tenta marcar diferenças em relação à administração federal. Há duas semanas, promoveu um seminário com os novos prefeitos do PSB, mostrando as diferenças administrativas entre o partido e o PT, de Dilma Rousseff.
Na segunda-feira, véspera do encontro de Lula com os governadores, Eduardo Campos deu uma longa entrevista ao Estado de S. Paulo, afirmando que os três primeiros meses de Dilma em 2013 serão essenciais para que o governo diga a que veio. "Vocês estão procurando chifre em cabeça de cavalo. Não tem divisão nenhuma. O Cid tem autonomia como governador em suas ações e gestos políticos", esquivou-se Roberto Amaral.
Os irmãos Gomes, embora não admitam, seguem engasgados com 2010. Ciro queria ser candidato a presidente, mas Eduardo Campos decidiu que o partido apoiaria Dilma. "Ele não foi boicotado. Ciro não se viabilizou e 90% dos filiados ao partido consideraram um risco manter a candidatura", rebateu o secretário-geral do PSB, Carlos Siqueira. "Eles sabem que, no partido, não têm maioria. Querem se cacifar externamente. Provavelmente, em 2015, deixarão o PSB", disse ao Estado de Minas um aliado de Ciro e Cid Gomes.
Estado de Minas
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