Campanhas eleitorais devem servir a dois objetivos óbvios: conquistar votos para os candidatos e permitir aos eleitores avaliar virtudes e defeitos dos cidadãos que pretendem representá-los.
Esta semana, o jornal apresentou um dado importante para essa avaliação: em dois meses de campanha, candidatos nas eleições municipais, buscando mandatos de prefeito e vereador, gastaram na caça de votos um total de R$ 975 milhões, segundo levantamento do Tribunal Superior Eleitoral. Cientistas políticos calculam que, no fim da disputa, as despesas de campanha chegarão a R$ 3 bilhões.
É um aumento de 33% em relação às eleições de 2008. As campanhas dos candidatos a prefeito, obviamente, estão mais caras: R$ 551 milhões, contra R$ 404 milhões dos que buscam mandatos de vereador. Não há nada de desonesto nisso. Em princípio, as contribuições saem dos bolsos de cidadãos que desejam a eleição de candidatos que defendam seus princípios e suas crenças políticas. Mas seria excesso de ingenuidade não admitir que também estejam em jogo, em alguns casos, interesses menos nobres. Falando mais claro: ter um vereador no bolso pode ser importante para muita gente. Os cidadãos endinheirados que financiam as campanhas podem alegar, sem serem contestados, que estão ajudando a eleger pessoas que defendem ideias e princípios semelhantes aos seus. E estes são, claro, voltados para objetivos de indiscutível interesse para a comunidade. Isso pode ser verdade em muitos casos. Mas com certeza não em todos. Seja como for, todos os grandes partidos gastam fortunas nas campanhas municipais.
Num levantamento parcial, até setembro, os gastos dos maiores partidos na disputa de prefeituras são consideráveis. O campeão é o PT em São Paulo: R$ 16,5 milhões na campanha do candidato a prefeito Fernando Haddad, do PT.
No Rio, pelo visto, a eleição é mais baratinha: aqui, a campanha mais cara está em oitavo lugar, com R$ 3,7 milhões gastos até agora por Eduardo Paes, do PMDB.
Pode-se lamentar que, com raras exceções, o dinheiro vale mais do que ideias e projetos dos candidatos. Mas nada existe de ilegal no financiamento das campanhas. Resta ao eleitor torcer para que, por coincidência, os políticos bem financiados sejam também os mais capazes e bem intencionados. Às vezes, acontece.
Publicado no Globo de hoje.
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