Cachoeira se esconde em interior de carro na saída da Polícia Federal nessa terça
No segundo dia de audiência do processo da Operação Monte Carlo, o acusado de ser o mentor do esquema ilegal de jogos no Centro-Oeste, Carlinhos Cachoeira, chegou escoltado por volta das 8h20 no prédio da Justiça Federal de Goiânia (GO) nesta quarta-feira. Quase no mesmo horário, a sua mulher, Andressa Mendonça, chegou ao local demonstrando confiança. "Estou em paz. Eu sou cristã", declarou, revelando ainda que reza sempre.
Os advogados de defesa também se mostraram otimistas com o andamento do processo e consideraram benéficos os depoimentos do primeiro dia. Pela acusação, foram ouvidos dois agentes da Polícia Federal, Fábio Álverez e Luiz Carlos Pimentel. "As duas testemunhas de ontem me deixaram feliz", garantiu Douglas Messora, advogado do assessor de Cachoeira, Gleyb Ferreira da Cruz. Sem querer revelar a tese da defesa, ele deu uma pista. "Não se produziu prova alguma ontem", disse.
Ney Moura Teles, advogado do réu Wladimir Garcez, também demonstrou ter ficado satisfeito com os depoimentos. Questionado quanto à declaração do procurador Daniel Salgado de que a defesa estaria tentando protelar o julgamento, Teles foi enfático. "Ele está desesperado porque viu que as testemunhas que ele trouxe fizeram prova contra a tese dele", avaliou.
Nessa terça, das 10 testemunhas de defesa que deporiam, cinco foram dispensadas, segundo a assessoria da Justiça Federal de Goiânia. Com isso, serão ouvidas, hoje, cinco testemunhas de defesa e duas de acusação. Há também a possibilidade remota de que os réus, inclusive Cachoeira, prestem depoimento nesta quarta-feira.
Pela acusação, irão falar Daniel Guerra Ferreira e Renato Moreira Peixoto, agentes da Polícia Federal. Pela defesa, estão previstos os depoimentos de Marcelo Araújo Sali, Francisco Pereira Borges, Liezer Clementino Ribeiro, Luiz Otávio Vieira da Paixão e Daniel Messac. Por ser deputado estadual (PMDB-GO), Messac poderá ser ouvido em outro local.
Carlinhos Cachoeira
Acusado de comandar a exploração do jogo ilegal em Goiás, Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, foi preso na Operação Monte Carlo, da Polícia Federal, em 29 de fevereiro de 2012, oito anos após a divulgação de um vídeo em que Waldomiro Diniz, assessor do então ministro da Casa Civil, José Dirceu, lhe pedia propina. O escândalo culminou na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) dos Bingos e na revelação do suposto esquema de pagamento de parlamentares que ficou conhecido como mensalão.
Escutas telefônicas realizadas durante a investigação da PF apontaram diversos contatos entre Cachoeira e o senador Demóstenes Torres (GO), então líder do DEM no Senado. Ele reagiu dizendo que a violação do seu sigilo telefônico não havia obedecido a critérios legais, confirmou amizade com o bicheiro, mas negou conhecimento e envolvimento nos negócios ilegais de Cachoeira. As denúncias levaram o Psol a representar contra Demóstenes no Conselho de Ética e o DEM a abrir processo para expulsar o senador. O goiano se antecipou e pediu desfiliação da legenda.
Com o vazamento de informações do inquérito, as denúncias começaram a atingir outros políticos, agentes públicos e empresas, o que culminou na abertura da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) mista do Cachoeira. O colegiado ouviu os governadores Agnelo Queiroz (PT), do Distrito Federal, e Marconi Perillo (PSDB), de Goiás, que negaram envolvimento com o grupo do bicheiro. O governador Sérgio Cabral (PMDB), do Rio de Janeiro, escapou de ser convocado. Ele é amigo do empreiteiro Fernando Cavendish, dono da Delta, apontada como parte do esquema de Cachoeira e maior recebedora de recursos do governo federal nos últimos três anos.
Demóstenes passou por processo de cassação por quebra de decoro parlamentar no Conselho de Ética da Casa. Em 11 de julho, o plenário do Senado aprovou, por 56 votos a favor, 19 contra e cinco abstenções, a perda de mandato do goiano. Ele foi o segundo senador cassado pelo voto dos colegas na história do Senado.
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