A transmissão das imagens do astronauta saltitando pelo satélite natural não representou apenas a soberania espacial dos Estados Unidos, a concretização da profecia de John F. Kennedy proferida oito anos antes e todos os avanços científicos resultantes do programa Apollo. Os registros daqueles momentos mostraram a todos quão longe o ser humano poderia chegar com computadores inferiores ao celular que você tem no bolso hoje. Armstrong e Buzz Aldrin sabiam disso. E não puderam nem pensar em cumprir a programação, de tão extasiados que estavam por terem pousado em segurança.
Em vez de dormirem após a aterrissagem e deixarem a nave apenas às 3h16 do dia 21, eles resolveram iniciar logo a próxima fase da missão.
Assassinado em 1963, o presidente americano John F. Kennedy não pode acompanhar a conquista da Lua. Mas todos sabiam que o impulso inicial daquela viagem partiu dele. Em plena Guerra Fria, os Estados Unidos estavam perdendo em importante batalha para a União Soviética: a corrida espacial.
Em 1957, os soviéticos chocaram o resto do mundo ao mandar ao espaço o primeiro satélite artificial, Sputnik 1, e a cadelinha Laika. No dia 12 de abril de 1961, mais um revés para os americanos: o cosmonauta russo Yuri Gagarin se tornou o primeiro homem a orbitar a Terra. Por isso, quando Kennedy anunciou o objetivo de enviar uma missão tripulada à Lua até o fim da década de 1960, poucos acreditaram que o intento se confirmaria - e que os soviéticos não chegariam lá antes.
"A chegada do homem à Lua representou um esforço científico e tecnológico que, na época, ninguém imaginava possível", relata José Monserrat Filho, chefe de Cooperação Internacional da Agência Espacial Brasileira (AEB) e professor de Direito Espacial.
Em uma mensagem especial ao congresso americano no dia 25 de maio de 1961, Kennedy expôs a relação entre os avanços soviéticos e o novo objetivo de seu país. "Se nós queremos vencer a batalha que está acontecendo ao redor do mundo entre a liberdade e a tirania, as dramáticas conquistas no espaço nas últimas semanas devem deixar claro para todos nós, assim como o fez Sputnik em 1957, o impacto dessa aventura nas mentes de homens de todos os lugares que estão decidindo que caminho eles devem seguir", alertou o presidente.
"Eu acredito que esta nação deva se comprometer em atingir o objetivo, antes que esta década termine, de pousar um homem na Lua e trazê-lo de volta a salvo para a Terra. Nenhum projeto espacial será mais impressionante para a humanidade ou mais importante para a exploração do espaço a longo termo; e nenhum será tão difícil e caro para realizar. Não será apenas um homem indo para a Lua - se isto se confirmar, será uma nação inteira. Porque todos nós precisamos trabalhar para colocar ele lá".
Oito anos depois do discurso, Armstrong fincou a bandeira americana na superfície lunar, em uma missão chamada Apollo 11. Esse desfecho só foi possível devido à disputa com os russos, que incrementou o investimento e o empenho dos EUA para alcançar tal feito. "O objetivo principal não era estudar a Lua, e sim mostrar seu poderio tecnológico e político e provar para a União Soviética a sua liderança na corrida espacial", explica Monserrat.
Calculadora científica
O poderio tecnológico dos EUA naquela época não impressionaria um soviético hoje. A chegada do homem à Lua ocorreu com uma tecnologia bastante rudimentar quando cotejada com a atual. É até difícil comparar o computador da Apollo 11, o Apollo Guidance Computer (AGC), com os PCs e Macs que qualquer criança maneja em 2012.
Um tablet ou smartphone de última geração, seja dotado de iOS ou de Android, seria tecnologia extraterrestre para aquela época. De acordo com Rui Barbosa, historiador espacial e editor do site Boletim Em Órbita, o processador 8088, concorrente mais próximo, fabricado em 1981, possuía oito vezes mais memória do que o computador utilizado na Apollo.
Lançada de um foguete Saturn V do Kennedy Space Center, na Flórida, a espaçonave Apollo tinha três partes: o módulo de comando, a única parte que voltou à Terra; o módulo de serviço, que continha propulsor, sistema elétrico, oxigênio e água; e o módulo lunar, utilizado para pousar na Lua. Apesar de ser tripulada por três astronautas, a missão foi dividida de forma que Michael Collins permanecesse no módulo de comando, na órbita lunar, enquanto Buzz Aldrin e Neil Armstrong pousassem na Lua com o Módulo Lunar.
Esse módulo também tinha um AGC, a fim de que os astronautas pudessem se orientar e pousar no satélite. Ele pesava 32kg, tinha 2 kb de memória RAM e não ostentava disco rígido, além de oferecer um poder de processamento de 2.048 MHz (o equivalente a uma calculadora científica atual) - um iPhone 4s, por exemplo, pesa 140g e possui 64gb de armazenamento, 512 mb de memória RAM e processamento de 800 MHz dual-core.
Não por acaso, nos momentos que antecederam o pouso o computador começou a emitir sinais de erro e a reiniciar. Isso ocorreu devido a uma sobrecarga de informações computadas pelos astronautas naqueles minutos decisivos.
Assim, com a tecnologia daquela época, o fator humano contava ainda mais. Os astronautas eram submetidos a baterias intensivas de testes e simulações, nas quais se tentavam prever todos os problemas que poderiam ocorrer durante as missões. E eles de fato ocorriam. "Se hoje o treino dos astronautas é um treino intensivo, naqueles dias os astronautas eram verdadeiros super-homens; os melhores escolhidos entre os melhores", acrescenta o historiador espacial Rui Barbosa.
Avanço científico
O retorno à Terra rendeu diversos avanços científicos. Segundo Barbosa, muitas áreas se beneficiaram das tecnologias desenvolvidas para o programa Apollo. "A corrida à Lua levou a avanços tecnológicos ímpares na nossa história recente", afirma.
Um dos exemplos é a eletrônica. "Ela não era tão miniaturizada como hoje em dia. Na verdade, a eletrônica moderna nasceu juntamente com a era espacial", diz Naelton Mendes de Araújo, astrônomo da Fundação Planetário do Rio de Janeiro. Além dela, outros avanços foram possíveis a partir da conquista da Lua. Diversos materiais modernos, como as espumas sintéticas, metais, plásticos, entre outros, foram elaborados para as missões lunares.
Áreas como a aeronáutica e a engenharia foram algumas das que se beneficiaram com os avanços tecnológicos, com novos mecanismos de propulsão de foguetes, controles mecânicos e eletrônicos na ausência de gravidade, além dos estudos sobre fisiologia humana no espaço, reciclagem de fluídos, equipamentos da manutenção física, materiais isoladores, sistemas de filtragem, refeições desidratadas, sensores de medição de gases, computação e software, comunicação a grandes distâncias etc. "A comunicação via satélite foi uma das maiores heranças da era da corrida espacial", completa Araújo.
Missões anteriores haviam circundado a Lua, pousado nela e enviado fotografias de sua superfície. Mas, por volta de julho de 1969, a Nasa estava pronta para enviar homens ao satélite. A tripulação da missão histórica era formada pelo comandante Neil Armstrong, Michael Collins (piloto do módulo de comando) e Edwin "Buzz" Aldrin (piloto do módulo lunar). Veja a seguir como a missão transcorreu.
16 de julho de 1969 (9h32) - o foguete Saturno V, transportando a espaçonave Apollo 11, foi lançado do Centro Espacial Kennedy, na Flórida. Ele transportava o módulo de comando e serviço, que alojava os astronautas, e o módulo lunar que Armstrong e Aldrin utilizariam para o pouso na Lua. Depois de completar uma órbita e meia em torno da terra, o terceiro estágio do Saturno V voltou a ser acionado e colocou a Apollo 11 no caminho da Lua. Pouco depois, o módulo de comando, conhecido como Colúmbia, separou-se do foguete, reverteu sua posição e se conectou pelo nariz ao módulo lunar, o Eagle. A espaçonave combinada assim formada prosseguiu em seu percurso.
19 de julho - a Apollo 11 entrou na órbita da Lua. Depois de 24 horas em órbita e de uma verificação dos sistemas e da comunicação no módulo lunar, Armstrong e Aldrin separaram o Eagle do Colúmbia, e se prepararam para o pouso na superfície lunar. Collins ficou no Colúmbia, para servir como elo de comunicação entre o módulo lunar e o controle da missão, na Terra.
20 de julho (16h17) - 102 horas depois do lançamento, Armstrong e Aldrin pousaram no Mar da Tranqüilidade, uma planície de lava na superfície da Lua. Armstrong enviou sua famosa mensagem ao controle da missão: "Houston, aqui Base Tranqüilidade. O Eagle pousou". Pouco minutos depois, os dois astronautas começaram os procedimentos para um cancelamento de emergência da missão e retorno ao módulo de comando, para o caso de alguma emergência. Depois, desativaram os sistemas do módulo.
Seis horas e meia mais tarde. Armstrong deu seus primeiros passos na superfície da Lua.
Tim Boxer/Getty Images
Grupo de crianças assiste à transmissão pela TV do pouso lunar da Apollo 11, no Central Park, Nova York
Assim que Aldrin se uniu a Armstrong na superfície da Lua, os dois astronautas começaram a coletar material. Enquanto trabalhavam, anotavam as diferenças entre a gravidade lunar e a terrestre. Como a gravidade da Lua equivale a 1/6 da terrestre, os astronautas tinham de se mover com passos lentos ou saltando com os dois pés, como cangurus.
Na Lua, Armstrong e Aldrin criaram uma imagem que entrou para a História, quando instalaram uma bandeira dos Estados Unidos. A tarefa foi menos fácil do que pareceu. A estaca penetrou facilmente no solo da Lua por 10 ou 15 centímetros, mas depois surgiu resistência. Os astronautas tiveram de incliná-la ligeiramente para que ficasse no chão.
Durante o período passado na Lua, eles recolheram cerca de 22 quilos de material lunar, fotografaram a área do pouso, montaram equipamentos e extraíram duas amostras do subsolo lunar. Deixaram para trás um disco com 73 mensagens de países do mundo, um distintivo da Apollo 1, medalhas de cosmonautas russos e um símbolo da águia norte-americana levando um ramo de oliveira.
MPI/Getty Images
Ao voltar à Terra, a tripulação da Apollo 11 ficou em quarentena. Os astronautas conversaram com o presidente Nixon pela janela do veículo de quarentena.
21 de julho (1h54) - 21 horas depois do pouso, Armstrong e Aldrin decolaram da Lua, deixando o estágio inferior do módulo lunar para trás. Dentro do módulo, eles voltaram à órbita do satélite, onde se acoplaram ao módulo de comando e serviço e depois soltaram o Eagle no espaço.
24 de julho - a Apollo 11 entrou em órbita da Terra a uma velocidade de 11.031 metros por segundo e pousou no Oceano Pacífico às 12h51.
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