Nos anos 90, no mercado de CEOs, ganharam fama os chamados “exterminadores de custos”. Em alguns casos, utilizando metodologias sofisticadas, como o “seis sigmas”, que permite mapear processos e identificar desvios mínimos. Em outros casos, os inomináveis processos de “reengenharia” ou de cortar custos com machado.
Foi o que ocorreu com a TAM, quando a gestão saiu das mãos de aviadores – como o próprio comandante Rolim – para a de açougueiros de mercado, a partir da gestão de Marco Bologna, egresso do mercado financeiro.
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A busca do resultado rápido levou a um desmonte dos padrões de qualidade da empresa. Cortou no treinamento, no atendimento ao público, no lanche de bordo. Pilotos e tripulações foram submetidos a uma pressão sem precedentes por resultados, para aproveitar ao máximo o boom de passageiros proveniente do fim da Varig e do advento das novas classes sociais.
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Os cortes eram sem rumo, sem plano de vôo, sem controle de processos.
Por exemplo, a empresa pagava uma nota preta por um sistema que permitia o controle das tripulações – evitando sobrecarga de horário. Mas não se utilizava o sistema, provocando uma balbúrdia infernal na definição das equipes de voo. Só passou a ser utilizado quando a soma de multas trabalhista tornou-se pesada.
A visão de gestão se baseava meramente nos números financeiros imediatos, sem pensar na lógica do setor, na visão de médio prazo, na perda do diferencial competitivo (que lhe permitia cobrar acima dos concorrentes) e, principalmente, na segurança dos passageiros.
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O que ocorreu no acidente da TAM em Congonhas foi um crime, cujos responsáveis maiores foram os CEOs que levaram a companhia aquela situação e os dirigentes da ANAC (Agência Nacional de Aviação Civil) que fecharam os olhos para o abuso.
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O avião estava com o reverso (a peça que permite frenar o avião no solo) avariado. Havia orientação do fabricante de que, em caso de reverso avariado, o avião deveria parar no primeiro lugar que conseguisse para consertá-lo, antes de prosseguir o voo. Mas o avião continuou voando muito tempo devido ao ritmo maluco imposto pela empresa aos pilotos
Provavelmente o avião estava com sobrepeso.
Na época, um dos comentaristas do meu blog escreveu um post detalhadíssimo, com dados impressionantes. Foi até o site da Airbus e levantou as especificações do modelo de Airbus, inclusive o peso da aeronave vazia. Depois, somou o tanque cheio – a TAM abastecia o avião em Porto Alegre, para economizar ICMS. Levantou o número de passageiros – o avião estava superlotado – estimou um peso médio per capita para passageiros e bagagens. Somando tudo, o peso final superava em muito as recomendações da fabricante.
A essas situações de risco somou-se uma terceira: a pista recém-recapeada do aeroporto. Mais que isso: uma noite de chuva intensa.
Definir um ou dois culpados não refresca a situação. No pano de fundo, a disputa desenfreada das companhias de aviação para aproveitar cada centavo da demanda de passageiros e a complacência cúmplice da ANAC para com essa prática.
Luis Nassif
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